fbpx

3 Influencers Portuguesas do Mundo do Vegetarianismo

Com o crescimento da população veggie, a popularidade e o reconhecimento de influencers do mundo do vegetarianismo tem sido ainda mais notória. Mas e em Portugal? Estão presentes? Sim! Descobre 3 personalidades portuguesas, com peso no mundo digital português e que partilham muitas dicas vegetarianas nas suas redes sociais.

Partilha este artigo:

O número de pessoas a mudar a sua alimentação para dietas de base vegetal está a aumentar no mundo inteiro e Portugal não é excepção, onde o número de vegetarianos quadruplicou entre 2007 e 2017 e continua a aumentar. De acordo com um estudo da Lantern, em 2021, o número de portugueses a seguir uma alimentação veggie – que inclui vegetarianos, veganos e flexitarianos – já era de cerca de 1 milhão e 19 mil pessoas.

Se para muitas pessoas esta transição é simples, para outras é mais fácil quando se sentem integradas em comunidades vegetarianas e afins, ou por influência e estímulo de outras pessoas mais experientes e com alguma visibilidade, como é o caso das hoje designadas influencers – pessoas que têm:

  • o poder de influenciar as decisões de compra de outros devido à sua autoridade, conhecimento, posição, ou relação com o seu público;
  • seguidores num nicho distinto, com os quais se envolvem activamente. 

Influencers como agentes de socialização e influência

Actualmente, o poder que os influencers detêm está equiparado ao papel que os agentes de socialização têm no processo de aprendizagem, aquisição e ajustamento, de forma apropriada, dos comportamentos sociais em relação à cultura; isto é, na socialização – que, resumidamente, pode ser entendida como um processo de transmissão de cultura.

Os agentes e/ou agências de socialização são as pessoas ou grupos de pessoas e instituições (Família, Escola, Igreja, Meios de comunicação Social, Pares, …) de um determinado contexto social que contribuem para aquela aprendizagem, aquisição e ajustamento de atitudes e comportamentos, condutas, valores e até modos de pensar dos indivíduos. Deste modo, cada pessoa aprenderá a integrar-se e a criar vínculos na sociedade em que se insere.

Ao longo do tempo, estes agentes foram variando, em função da evolução das sociedades. Se até ao final do século passado, por exemplo, a rádio e a televisão eram os principais meios de comunicação social impactantes em termos de socialização, com todos os seus modelos de acção e de valores, com o desenvolvimento e progresso da World Wide Web (WWW) e todos os canais que esta gerou, outros agentes de socialização foram surgindo, como é o caso dos influencers

O poder de influência que os influencers adquiriram nos últimos anos, confere-lhes o papel de agente de socialização acima descrito. Tanto mais que o seu estatuto se enquadra nos agentes de socialização de duas formas: integrados nos meios de comunicação social e nos pares. 

Este duplo enquadramento é o seu poder. Por um lado, são pessoas com as quais facilmente nos identificamos – por serem ‘normais’ e terem começado no anonimato (como nós) – e, por outro, por chegarem a cada vez mais pessoas e mais rapidamente, dada a variedade e velocidade dos diversos canais e meios de divulgação da internet – o que contribui para a sensação (real e virtual) de proximidade, quer física, quer emocional, quer socialmente.

Esta proximidade entre os interlocutores permite um diálogo franco e directo, como uma conversa de amigos de longa data – o que gera um elevado grau de confiança: o ponto de partida para a influência. No que aqui importa, para influenciar na tomada de decisão para a mudança para uma alimentação de base vegetal e, se possível, para um estilo de vida sustentável e vegano – livre de sofrimento animal e de todos os seres vivos em geral.

Três Influencers Portuguesas

Trazemos-te três influencers das redes sociais, mulheres portuguesas que têm desenvolvido a sua reputação pelos seus conhecimentos e práticas sobre a cozinha vegetariana e vegana e outros assuntos relacionados com o vegetarianismo.

É provável que o referido aumento do número de vegetarianos/as e veganos/as também resulte do trabalho destas pessoas, que se têm dedicado à promoção e divulgação deste tipo de dieta. As plataformas sociais demonstram-no. Basta usar o #vegan e logo surgem pessoas que se vão tornando influentes e modelos de acção e de comportamento, neste caso, influenciando com as suas receitas saborosas e nutricionalmente ricas.

1.Maria Melo Falcão


Uma imagem com pessoa, exterior

Descrição gerada automaticamente
Fotografia cedida por Maria Melo Falcão

Exemplo disso é Maria Melo Falcão (MMF), cujo site nos remete não apenas para uma secção repleta de receitas saudáveis e deliciosas, mas igualmente, para uma loja de produtos sustentáveis e veganos que, não só é isenta de exploração animal, como também é socialmente justa, ao respeitar e apoiar o trabalho de produtores locais.

Estivemos à conversa com MMF e ficámos a saber que MMF nasceu vegan e assim permaneceu, até aos três anos de idade. A sua “mãe era vegetariana, depois ficou mais relaxada, mas a base era a macrobiótica. Uma alimentação mais neutra, por causa do Yin e do Yang”. 

A mudança definitiva para uma alimentação totalmente vegetal deu-se há cerca de três anos, no regresso de uma temporada em Israel, onde esteve a estudar dança. Enquanto aí viveu, percebeu porque é que Israel é um dos países mais vegans do mundo. 

A própria alimentação é muito rica nesse aspecto, como por exemplo, o húmus, a falafel; é tudo muito vegetal. As suas festividades são celebradas com comidas muito saudáveis, como a romã e muitas saladas. Fiquei mesmo surpreendida, porque, para nós, as festividades têm imensos fritos e doces. E lá era tudo muito saudável”.

MMF ganhou algum peso em Israel, por isso, ao regressar procurou um nutricionista e depois outro e depois desistiu de seguir uma dieta. 

O que aconteceu é que era bife ao almoço e ao jantar [sic]. Ou peixe. Era sempre comida animal a todas as refeições (…). Cheguei a perguntar: posso incluir tofu ou seitan, porque estou habituada…. Posso incluir ervilhas no arroz? [risos] Foi uma experiência muito esquisita…” [Vê aqui uma lista de nutricionistas que te podem ajudar com a alimentação vegana].

Durante essa experiência, MMF percebeu que o seu corpo começava a rejeitar a carne, ficando, cada vez mais vezes, enjoada e a sentir-se mal.

Eu nunca tinha comido tanto animal de forma tão intensiva. (…) Comecei a perceber pelo meu próprio corpo: ah, se calhar, isto de comer carne todos os dias não é mesmo nada bom”.

Esta fase coincidiu com a visualização de uma palestra no Youtube, de Gary Yourofsky, um activista israelita.

Depois de ver aquilo fez todo o sentido; como algumas questões em relação às quais nunca tinha refletido por serem normais para mim, mas que de repente deixaram de fazer sentido. Ao ver aquilo foi imediato. (…) Este foi mesmo o ponto sem retorno. Deixei de ver certas coisas como comida”. 

MMF começara, entretanto, com um canal no YouTube e ia transformar a sua conta pessoal no Instagram em mais uma via de comunicação. Estava numa fase de insatisfação em relação ao seu trabalho enquanto bailarina e professora e queria mudar. 

Como sempre gostou de cozinhar e sabia que o fazia bem, começou a partilhar, “até porque cozinhava para vender enquanto estudava, para ajudar a minha mãe com as despesas. Tinha um pouco dessa experiência; as pessoas conhecidas compravam-me a comida e pediam-me as receitas (…) Começou por aí, por querer partilhar e de experimentar um outro tipo de exposição”.

A mudança para a dieta de base vegetal estimulou ainda mais à partilha de receitas. Tanto mais que se sente “com muito mais energia, sinto-me melhor. Acho que sempre fui saudável, (…), mas realmente nunca me senti tão bem como agora (…). Além disso, eu ficava imensas constipada e para aí há dois anos que não fico nem adoentada, nem engripada”.

Nas plataformas sociais em que partilha os seus conteúdos digitais, como o YouTube, Instagram ou Tiktok, Maria quer mostrar como comer 100 % vegetal faz parte do seu estilo de vida saudável, no qual a actividade física e desportiva é fundamental. 

Essa é a sua ideia global, a de partilhar um estilo de vida saudável, em que a prática desportiva é importante, pois entende que além de não ser natural comer carne todos os dias, também não é natural passarmos todo o dia sentados em frente a um computador. 

Nas suas partilhas, Maria procura mostrar que a alimentação vegana, além de saudável e sustentável, sem sofrimento animal, também pode ser e é deliciosa e corresponder aos nossos anseios pela chamada ‘comida de conforto’

Para as pessoas que estão numa fase de transição ou só a experimentar, sugere que “é muito importante ter opções semelhantes ao que se comia, em vez de mudar radicalmente e dar, por exemplo, uma papa de aveia, a quem sempre comeu uma torrada com manteiga: «procura os teus pratos preferidos numa alternativa vegetal» [– sugere]. Porque assim a pessoa vai ter essa ligação de estar a comer, por exemplo, massa à bolonhesa, ou lasanha”. 

“Mesmo que não seja igual, pode continuar a comer as coisas que são importantes para si, ou em que sente estar numa zona de conforto. Percebo que essa mudança pode ser complicada. Sinto que é uma área muito sensível”.

Uma imagem com interior, parede, pessoa, cozinha

Descrição gerada automaticamente
Fotografia cedida por Maria Melo Falcão

Quanto ao seu contributo, MMF fica “muito feliz quando uma pessoa me diz: «Experimentei fazer o teu cheesecake e toda a família adorou!»; nem que seja numa refeição que se substituiu, para mim já é compensador e gratificante. (…) Por exemplo, as rabanadas. Viram, experimentaram, gostaram e agora passam a fazer assim. É pequeno, mas mostra a possibilidade, a semente e essas pequenas mudanças, fico mesmo muito feliz”.

2.Maria de Oliveira Dias

Uma imagem com pessoa, mulher, pose

Descrição gerada automaticamente
Fotografia cedida por Maria de Oliveira Dias

The Love food é um dos lugares onde encontras Maria de Oliveira Dias (MDO). Uma das primeiras empresas veganas e biológicas do país.

Foi aos 12 anos que, por compaixão para com os outros animais, MDO se tornou vegetariana, tendo abdicado de todos os produtos de origem animal há mais de 10, altura em que colocou em prática a sua percepção, a de que esta não é apenas uma decisão ética, mas igualmente mais saudável e sustentável.

Ainda que não se falasse muito do vegetarianismo quando era adolescente, a sua decisão foi irreversível, talvez pelo amor e compaixão pelos animais que Jane Goodall lhe transmitia. Quando era mais nova, o fascínio pelo trabalho da primatologista era tal, que MOD chegou a ponderar seguir etiologia.

Aquando da mudança para o veganismo, houve outras influências, como por exemplo, a de “Isa Chandra Moscowitz, que lançou na altura vários livros de receitas que me influenciaram bastante, como o Veganomicon”. 

Foi nesta época, em 2010, que, “ao descobrir que ser vegan é muito mais simples do que pode parecer, quis partilhar com o mundo as receitas que fazia em casa e que ficavam deliciosas apenas com ingredientes de origem vegetal”. 

Quando quis aprofundar a culinária vegana e as respectivas potencialidades, ficou maravilhada com o que se podia fazer. Era impossível ficar por ali, tinha de continuar a aprender e a partilhar.

Assim, através das diversas redes e plataformas sociais (FB, INSTA e Youtube) e dos vários livros já publicados, como por exemplo, “O Livro da Cozinha Vegana”, o seu grande “objectivo é partilhar receitas simples e deliciosas que toda a gente possa fazer em casa (…). E, ao experimentar, é menos um bichinho que se come à refeição, é um prato com uma pegada ambiental menor e é um boost de saúde e frescura para quem experimenta”. 

Uma imagem com pessoa, parede, em pé, pose

Descrição gerada automaticamente
Fotografia cedida por Maria de Oliveira Dias

A sustentabilidade é outro valor inerente à sua vida, colocando-o em prática nas suas receitas e na forma de viver em geral. O livro “Ecoguia para mudar o mundo”, com um texto de Nuno Alvim, é outro dos seus feitos para contribuir para um mundo um pouco melhor e mais sustentável e amoroso. Como a própria afirma:

Se todos soubéssemos o impacto que a nossa comida tem, o que acontece aos animais, o que está no nosso prato, tanto do ponto de vista ético como ambiental ou de saúde, acredito que muitas mais pessoas se tornariam vegan”. 

Não é de estranhar, por isso, que MOD considere que a educação é o ponto de partida para influenciar positivamente as pessoas. Quando se refere às escolas, adianta “que não só se deveria ensinar e apoiar um estilo de vida mais saudável e sustentável como se deveria pôr em prática em todas as cantinas escolares”. Algo que a lei portuguesa já prevê, ainda que em muitas não passe do plano das intenções

Como não é de ficar de braços cruzados, MOD publicou um livro para ajudar os pais na construção de hábitos saudáveis e veganos para os mais novos – Cozinha Vegana para Bebés, Crianças e Famílias Saudáveis –, ao mesmo tempo que se desdobra a dar formação prática em cursos de cozinha vegetariana, também com o apoio da AVP.

Percebe-se, facilmente que, com o efeito, o seu lema seja o de “ajudar a fazer escolhas mais informadas nos seus pratos e nas suas vidas, descomplicando e tornando leve e divertida essa opção”.  

3.Ana Sofia Rosado

Uma imagem com exterior, árvore, terra, pessoa

Descrição gerada automaticamente
Fotografia cedida por Ana Sofia Rosado

A paixão pela criação de conteúdos, que iniciou em 2017, e pela fotografia associada à sua formação de marketing estão na base do projecto SpicyVegg – um espaço virtual (potencialmente físico), onde Ana Sofia Rosado (ASR) partilha receitas deliciosas, sugestões para um estilo de vida saudável e sustentável, restaurantes e muito mais. 

‘Descomplicar’ e mostrar como pode ser simples e fácil encontrar e preparar receitas deliciosas, saudáveis e livres de crueldade animal – o mote para o seu espaço virtual que também podes encontrar aqui e aqui.

Foi em 2019 que a sua mudança aconteceu. O seu problema de saúde obrigava-a a tomar uma série de medicações para atenuar as dores fortes e crónicas. Como não queria viver o resto da sua vida nesta dependência química, ASR começou a pesquisar sobre as medicinas alternativas. 

Daqui a experimentar uma dieta de base vegetal foi um saltito, afinal, o que teria a perder?” 

Pouco tempo depois, as dores tinham diminuído sobremaneira. Ficou muito feliz: “Encontrei uma solução natural, que não me beneficiava só a mim, mas também o planeta. Achei incrível. Hoje sou vegan por tudo, por mim, pelos animais e pelo planeta!

Encontrou em Ella do Deliciously ella a inspiração e a guia preciosa na sua iniciação deste novo caminho. Receitas simples, informações relevantes e alguém que a motivasse para continuar – o que ASR ganhou com Ella. 

Esta influência e motivação foi o ponto de partida para colocar a sua paixão pela culinária em prática.

Na minha infância adorava cozinhar com a minha mãe e as minhas avós, a cozinha sempre foi um lugar feliz para mim (…) Quando me tornei vegan, senti que havia em falta um espaço que realmente descomplicasse o mundo vegetal, e esse tem sido o meu foco desde então. Ensinar sobre ingredientes, métodos e em como é versátil comer 100% vegetal”.

O seu grande objectivo é contribuir para a mudança. Para ASR, “é um prazer inspirar, ensinar e motivar sobre este estilo de vida”, construindo e mantendo, para tal, “um espaço seguro, sem julgamentos”, pois sabe que cada pessoa tem o seu tempo de transição. Este é, aliás, o seu maior conselho: que cada um respeite o seu próprio tempo. 

Uma das coisas que ensino é começarem com a mudança numa refeição, como o pequeno-almoço, e a partir daí avançarem para outras, acredito que seja mais fácil e orgânico”. 

Quando recebe testemunhos desta mudança, sente que está no bom caminho. Ao mesmo tempo, reconhece que é uma responsabilidade, dado que está a influenciar. No fundo, a colaborar para algo que a ultrapassa. E isso é extraordinário, confessa, “saber que estou mesmo a ajudar é o que me faz continuar”.

Pelo exposto, é natural que ASR prossiga o caminho, pesquisando e partilhando o que vai aprendendo. No fundo, traçando o seu caminho como agente de socialização, de influência. A questão que a levou a experimentar terá esvanecido. Afinal, ficámos todos a ganhar!

Uma imagem com pessoa, parede, alimentação, mulher

Descrição gerada automaticamente
Fotografia cedida por Ana Sofia Rosado

A generosidade de cada uma destas mulheres estende-se à nossa APP, Veggiekit, e ao guia StartVeggie onde podes encontrar não apenas as suas receitas, mas igualmente testemunhos e ideias para (re)começares produtos ou serviços vegans. 

Artigo da autoria de Ana Luísa Pereira

* Agradecemos a disponibilidade destas três mulheres fantásticas para nos responderem a algumas questões, em particular a de Maria Melo Falcão para se deslocar ao Porto, a fim de gravar uma conversa guiada.

Este artigo foi útil?

Considera fazer
um donativo

A AVP é uma organização sem fins lucrativos. Com um donativo, estarás a ajudar-nos a a criar mais conteúdos como este e a desenvolver o nosso trabalho em prol dos animais, da sustentabilidade e da saúde humana.

Considera
tornar-te sócio

Ao tornares-te sócio da AVP, estás a apoiar a nossa missão de criar um mundo melhor para todos enquanto usufruis de inúmeros benefícios!

Queres receber todas as novidades?

Subscreve a newsletter AVP

Mais artigos em

Mais artigos em

Mais lidos

Subscreve

a Newsletter

Não percas um grão do que se passa!