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9 Mulheres Que Se Destacaram na Promoção do Vegetarianismo

Ao longo da história, foram várias as mulheres que se destacaram, e continuam a destacar-se, na sua defesa dos animais, protecção ambiental e da biodiversidade, e também na promoção do veganismo ou da alimentação vegetariana, por variados motivos.
9 Mulheres Que Se Destacaram Vegetarianismo

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Tendo em conta que as sociedades ocidentais são marcadas pelo patriarcado, é natural que os registos ao longo da história, sobre os feitos de mulheres, sejam mais difíceis de encontrar, também no que diz respeito ao ativismo em geral, e ao vegetarianismo em particular.

Por isso, fizemos um levantamento e damos-te assim a conhecer algumas destas mulheres que realizaram, e continuam a realizar (em alguns casos) um trabalho fantástico na criação de uma sociedade mais compassiva e sustentável.

1.Mary Shelley, 1797-1851

Um dos primeiros nomes femininos que nos surge no âmbito da história do vegetarianismo é já no século XIX. Pelo que se sabe, a escritora britânica Mary Shelley seria uma forte defensora dos direitos dos animais, o que se viria a repercutir na sua obra “Frankenstein, cuja criatura é descrita como vegetariana. Com efeito, os hábitos alimentares de Frankenstein são-nos apresentados como livres de sofrimento animal e pacíficos: “A minha comida não é a do homem, eu não destruo o cordeiro ou as crias para saciar o meu apetite; os frutos e as bagas são suficientes para me alimentar e nutrir. … A imagem que lhe apresento é pacífica e humana”. 

Não encontrámos referências à alimentação de Mary Shelley e a escritos concretos em relação ao vegetarianismo. É de notar, porém, que a escritora era casada com Percy Shelley, um poeta inscrito na The Vegetarian Society [A Sociedade Vegetariana], desde 1812, e autor de vários ensaios dedicados à defesa da alimentação vegetariana. É, por isso, provável que Mary Shelley partilhasse do estilo de vida do seu marido. 

Além do cônjuge activista, a escritora terá privado com algumas personalidades relevantes d’A Sociedade Vegetariana, entre as quais Lord Byron e John Frank Newton; este, um dos primeiros a escrever sobre os benefícios de uma alimentação natural, sem ingestão de produtos de origem animal. 

Assim, ainda que apenas indirectamente, poderá afirmar-se que Mary Shelley terá sido uma das primeiras mulheres de que há registo a contribuir, por meio da sua obra, para a discussão que se iniciava, nessa época, sobre a importância de uma alimentação saudável e natural – sem violência, sem morte animal.

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Retrato de Mary Shelley por Richard Rothwell exposto na Royal Academy em 1840. Crédito imagem: Wikipédia

2.Mary Gove Nichols, 1810-1884

Uma das primeiras discípulas de Sylvester Graham – um dos fundadores da The American Vegetarian Society [Sociedade Vegetariana Americana] – foi a escritora norte-americana, Mary Gove Nichols: uma acérrima activista pelos direitos das mulheres, em geral, mas igualmente uma forte defensora dos seus cuidados de saúde, de entre os quais se destacavam a alimentação vegetariana.

Ao sobreviver a um casamento abusivo, e por meio da sua própria experiência, Mary G. Nichols compreendeu a ligação entre o empoderamento físico e político. Mary Gove Nichols acreditava que, por intermédio do vegetarianismo, as mulheres poderiam fortalecer-se moral e fisicamente e, assim, prepararem-se para a igualdade política e social. 

Para promover estes valores e princípios Mary fundou, em 1851, o American Hydropathic Institute [Instituto Americano de Hidroterapia] – um estabelecimento termal de cura que recorria às propriedades das águas e evitava químicos e drogas –, para promover um estilo de vida saudável e natural, e realizava palestras: algo que à época não era permitido às mulheres. 

Segundo a International Vegetarian Union [União vegetariana Internacional], as suas palestras eram muito populares quer entre as mulheres, quer entre os homens, havendo registos de estarem cerca de 2 000 pessoas a assistirem às suas conferências. 

Além das palestras e do Instituto, Mary Gove Nichols publicava textos em revistas da especialidade. Uma dessas revistas foi fundada pela própria, em 1840, Health Journal and Advocate of Physiological Reform [Revista de Saúde e Defesa pela Reforma Fisiológica]. 

O vegetarianismo era um das componentes fundamentais dos ensinamentos da activista. Tal como o seu mentor, Sylvester Graham, Mary Gove Nichols explicava que o corpo humano não fora concebido para consumir carne, mas sim para comer os alimentos do reino vegetal.

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Mary Sargeant Gove Nichols. Crédito imagem: Wikipédia

3.Condessa Constance Wachmeister, 1838-1910

Pelo que já aqui foi exposto, percebe-se que é no século XIX que começam a surgir registos sobre o vegetarianismo “no feminino”, sendo o livro de receitas Practical Vegetarian Cookery [Cozinha Vegetariana Prática], da autoria da Condessa Constance Wachmeister, exemplo disso. 

A publicação do seu livro teve como grande objectivo demonstrar as inúmeras possibilidades nutritivas, e deliciosas, existentes dentro da alimentação vegetariana. A Condessa reconhecia a dificuldade na transição para uma alimentação vegetariana e, por isso, a pedido de vários amigos, decidiu partilhar e publicar inúmeras receitas para as diversas refeições e ocasiões sociais.

No prefácio da sua obra, Constance Wachmeister destaca duas das razões para esta publicação: por um lado, o facto de os animais de pasto estarem a ficar doentes, sendo por isso inevitável que se verificasse uma repulsa natural pela carne por parte dos humanos que estariam a procurar, como tal, uma alimentação mais pura e saudável; por outro, o facto de as crianças naturalmente rejeitarem a carne, havendo, assim, muitas mães preocupadas em saber como poderiam providenciar uma alimentação saudável e satisfatória para os seus filhos.

Além desse livro, a Condessa escreveu obras relacionadas com a educação e a vida simples, tendo proferido inúmeras palestras pelos vários continentes, em prol de uma vida simples, nos preceitos da Teosofia

Juntamente com Alfredo Pioda e Frank Hartmann, idealizou o Movimento Fraternitas, que tinha a Teosofia como base teórica e prática para uma vida laica e simples, com respeito por todos os seres vivos.  

4.Helen Knothe Nearing, 1904-1995

Entre outras, Helen Nearing é autora da obra Love and Living the Good Life [Amar e Viver a Boa Vida]. Um livro escrito depois da morte do marido e seu companheiro de vida, Scott Nearing, com quem escreveu e publicou diversos livros, entre os quais The Good Life [A Boa Vida]. Sendo este acerca de um estilo de vida simples, integrando, necessariamente, uma alimentação simples, de base vegetal. Juntos, foram precursores do Movimento de Regresso à Terra [Back to Land].

Destaque-se o seu livro, “Simple Food for the Good Life[Alimentação simples para uma vida boa], que, mais do que um livro de receitas vegetarianas, é um tributo “jovial e entusiasta” a um estilo de vida saudável e simples, com base em alimentos produzidos e cultivados por si e pelo seu companheiro de jornada, na sua propriedade, em Brooksville, no Estado de Maine, E.U.A. 

Esta propriedade, onde Helen viveu com o seu marido, construindo e divulgando uma vida livre de crueldade e respeitando todos os seres vivos, viria a ser transformada no Centro The Good Life Center, cuja missão é perpetuar o legado de Helen e Scott Nearing.

Através da sua programação e preservação da histórica propriedade agrícola florestal, advoga uma vida simples e sustentável, justiça social e económica, agricultura e jardinagem biológicas e a não exploração de animais

– pode ler-se na página inicial do centro. 
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Helen Knothe Nearing. Crédito imagem: Wikipédia

5.Julieta Ribeiro, N/D

O movimento vegetariano também chegou a Portugal no dealbar do século XX, sendo o jornal O Vegetariano, criado pelo médico Amílcar de Sousa um desses exemplos. Outro dos fundadores e editor d’ O Vegetariano foi Jerónimo Caetano Ribeiro.

Caetano Ribeiro casar-se-ia com Julieta Adelina Menezes Ribeiro em 1914. O jornal, O Vegetariano, descreveu este “evento como o primeiro casamento do mundo entre frugívoros, sem quaisquer “despojos cadavéricos””.

Dois anos mais tarde, Julieta Ribeiro publicava o livro “Culinária vegetariana, vegetalina e menus frugívoros”. Neste livro de 1916, com várias edições até 1923, podem encontrar-se mais de mil e duzentas receitas, adequadas a cada um dos meses do ano, tendo em conta a sazonalidade dos cultivos e dos alimentos.

Com 79 imagens, “sobretudo de gente com ar saudável e sem sinal de magreza, a obra sugeria receitas para quem quisesse fazer a transição da dieta vegetariana para a vegetalista [termo com origem na Amazónia peruana e usado para designar a alimentação exclusivamente vegetal] tendo como finalidade a adoção de uma dieta frugívora ou frutívora (ingestão de frutos crus)”.

O sucesso desta obra foi de tal ordem, entre a comunidade vegetariana portuguesa, que chegou à quarta edição, sendo esta ainda hoje invocada sempre que se pretende conhecer e compreender a história do vegetarianismo em Portugal. 

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Julieta Ribeiro. Crédito imagem: Vegetarianosutopicos.pt

6.Jane Goodall, 1934-…

Ao longo de quase 60 anos de trabalho pioneiro, Jane Goodall tem-nos mostrado a necessidade urgente de proteger os chimpanzés da extinção (…). Hoje, Jane viaja pelo mundo, falando sobre as ameaças que os chimpanzés enfrentam e as crises ambientais, exortando cada um de nós a agir em nome de todos os seres vivos e do planeta que partilhamos

pode ler-se no site do Instituto fundado pela primatologista, Jane Goodall Institute.

A sua pesquisa de campo, no Parque Nacional Gombe, na Tanzânia, não apenas transformou a nossa compreensão em relação aos chimpanzés, como redefiniu a relação entre os humanos e os outros animais. De facto, o seu trabalho, nesta como noutras matérias é de tal modo impactante, que Jane tem “assento” no comité do Nonhuman Rights Project [Projecto para os Direitos dos não humanos], desde 1996, ano da sua fundação.

Ratificando o valor e importância do seu trabalho, em 2002, foi convidada para ser mensageira da paz das Nações Unidas; em 2003, foi galardoada com o título de Dame Comander, da Ordem do Império Britânico; e, em 2021, ganhou o Prémio Templeton (uma espécie de Prémio Nobel para a espiritualidade/religião), só para dar alguns exemplos do seu percurso magnífico.

Como já se destacou aqui,o seu amor por animais e a vontade de aprender e compreender as emoções e o intelecto de chimpanzés selvagens tornou-a numa das primatologistas mais acarinhadas do nosso tempo.

Jane Goodall é imparável no seu trabalho e no seu esforço em prol de um mundo mais justo. Além do mencionado instituto, Jane é fundadora do movimento de empoderamento juvenil Roots & Shoots e “autora de vários livros, incluindo de livros infantis e até de um livro de receitas mais recentemente, o #EATMEATLESS: Good for Animals, the Earth & All

Muito mais factos e conquistas poderíamos referir sobre esta personagem extraordinária. Convidamos-te a ver o documentário inspirador, protagonizado, entre outros, pela própria Jane Goodall – H.O.P.E. What You Eat Matters [HOPE – Cura do Planeta Terra. O que tu comes é importante]. Trata-se de um documentário que descreve e “analisa os impactos de uma alimentação típica do Ocidente para a saúde humana, o planeta e os animais”.  

Tal como a AVP tem vindo a afirmar: “A mensagem do filme é clara: o que tu comes é importante” – por isso, as tuas decisões também são relevantes!

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Jane Goodall. Crédito imagem: Britannica.com

7.Marly Winckler, 1954-…

Presidente honorária da Sociedade Vegetariana do Brasil, que ajudou em criar em 2003, Marly Winckler é uma voz activa pelo veganismo e pela defesa dos animais, bem como uma forte defensora da mudança urgente nas práticas e nos consumos, em prol do meio ambiente em geral.

A sua importância para a promoção do vegetarianismo brasileiro é tal, que “a história do vegetarianismo no Brasil se confunde com a própria história de Marly Winckler.

Vegetariana desde 1983, Mary Winkler escreveu o seu primeiro livro sobre a filosofia e os motivos para alguém se tornar vegetariano em 1992.

Marly integra vários comités e secretariados de instituições e associações ligadas à promoção e à divulgação da alimentação estritamente vegetariana e dos direitos dos animais, tendo também criado, em 2000, a primeira página online sobre o vegetarianismo em português: o Sítio VEG

Além do seu activismo, Marly Winckler é socióloga e tradutora, tendo contribuído para a divulgação do vegetarianismo por meio da tradução de livros, como por exemplo, “Animal Liberation” [Libertação Animal], de Peter Singer, e Becoming Vegetarian” [100 % Vegetariano. O Guia essencial para uma alimentação saudável e ecologicamente correta], de Vesanto Melina e Brenda Davis. 

Entretanto, se quiseres saber o que Marly Winkley tem feito e ficar a par das suas iniciativas, explora aqui a sua página no Instagram.

8.Natalie Portman, 1981-…

Vegetariana desde os nove anos de idade, a actriz israelita Natalie Portman tornou-se vegan em 2011, depois de ler o livro de Joanthan Safran Foer, “Comer animais” [Eating animals]. Natalie recorre regularmente à sua voz influente para defender os direitos dos animais.

Foi já durante a sua primeira gravidez que a mudança para o veganismo ocorreu e, quando lhe perguntam sobre isso, hoje que é mãe de duas crianças, Natalie responde que ser vegan é “mais do que natural”, que isso se repercuta na educação dos seus filhos. Quanto ao facto do seu marido não ser vegan, Natalie lembra que o respeito pelos outros passa por aceitar as opções das outras pessoas, incluindo, naturalmente, a do seu marido. 

O seu activismo é conhecido e difundido entre os mais variados meios e revistas internacionais, como a Vanity Fair: revista à qual Natalie afirma que nunca, como hoje, foi tão fácil ser vegan.

A página de Instagram de Natalie é outra das suas formas para instar à mudança. Com efeito, costuma convidar pessoas influentes para se juntarem e partilharem as suas receitas veganas. Se quiseres experimentar algumas destas receitas, espreita aqui.

A sua ação em prol da defesa pelos animais estende-se naturalmente à sua profissão de actriz e, mais recentemente, de produtora. Um dos seus trabalhos é o documentário, de 2017, baseado na obra que a influenciou e conduziu ao veganismo: “Eating Animals” – um retrato doloroso da evolução da indústria agropecuária (encontra aqui outros documentários sobre este assunto).

Deixamos-te em seguida uma citação de Natalie que demonstra a sua forte personalidade, bem como o seu sentido de responsabilidade e cuidado para com todos os seres vivos e o planeta:

Parece que agora muita gente constrói piadas com os veganos, certo? Muita gente faz piadas com qualquer pessoa que se preocupe profundamente com qualquer coisa, certo? Mas eu, estou aqui para dizer que é sempre extraordinário que uma pessoa se preocupe… quer com questões ambientais, quer com os direitos dos animais, com os direitos das mulheres, quer seja com a igualdade. Nunca tenham medo de mostrar o quanto se preocupam”.

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Natalie Portman. Crédito imagem: harpersbazaar.com

9.Greta Thunberg, 2003-…

Eleita a pessoa do ano de 2019, pela revista Time, Greta Thunberg foi a personalidade mais jovem alguma vez distinguida por esta publicação. Os editores justificaram a sua escolha pelo facto de Greta “soar o alarme em relação ao relacionamento predatório da humanidade com a única casa que tem, por trazer a um mundo fragmentado uma voz que transcende fronteiras”.

Adicionalmente, é uma das pessoas indicadas para o Prémio Nobel da Paz de 2022, conforme noticia o Jornal Expresso. 

Por conseguinte, a AVP tem feito algumas menções a Greta Thunberg, por exemplo, aqui e aqui, já que esta figura tão jovem e mediática é incontornável no que à protecção dos animais diz respeito. Destaca-se o facto de se ter associado “ao grupo de direitos dos animais Mercy For Animals (MFA) [Misericórdia para os animais] para criar For Nature [Pela Natureza]: um filme curto que a ativista concebeu sobre o modo como a exploração humana dos animais e do planeta tem conduzido a crises sanitárias, como a Covid-19 e catástrofes ambientais”.

A crise climática, a crise ecológica, as crises sanitárias – estão todas interligadas. Já não vemos as ligações entre elas.… Gostaria de ligar as pontas porque, encaremos os factos, se não mudarmos, estamos ‘tramados’”.

diz Thunberg no filme.

Denota-se, assim, a coragem e o exemplo de uma jovem activista que, desde os 13 anos de idade, se dedica a chamar a atenção dos líderes mundiais, tornando-se uma referência e um modelo para muitos jovens de hoje. 

Greta Thunberg é escolhida 'pessoa do ano' pela revista 'Time' | Mundo | G1
Greta Thunberg foi eleita a pessoa do ano de 2019, pela revista Time. Crédito imagem: G1.Globo.com

Em parte como resultado da acção destas figuras femininas de renome, verifica-se que o número de vegetarianos está a aumentar em Portugal. Espera-se, deste modo, que estes números se repercutem na diminuição do sofrimento animal.

Artigo da autoria de Ana Luísa Pereira.

Ilustração da autoria de Mónica Milheiro.

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