Aproveitamos esta altura do ano em que o amor e os relacionamentos ocupam um lugar central nas nossas mentes e nos nossos corações para abordarmos este tema que vem sendo cada vez mais vivenciado por alguns casais contemporâneos.
Como agir quando a pessoa por quem nos apaixonamos ou com quem queremos partilhar a nossa vida não segue a mesma dieta que nós? Será que divergências alimentares e, de certa forma, ideológicas, podem constituir um entrave ao bom desenvolvimento de uma relação amorosa?
Partimos à conversa com algumas das colaboradoras da AVP para descobrir como lidam com este tipo de situação e deixamos-te algumas dicas para relacionamentos de sucesso entre vegetarianos/as e não-vegetarianos/as.
Uma questão de respeito mútuo, paciência e comunicação
Juntos há 8 anos, Ana e Tomás, seguem dietas muito distintas há já 7 anos – a Ana é vegan e o Tomás consome produtos animais. Apesar de alguns atritos na vida conjunta, ao longo do tempo, aprenderam a respeitar as escolhas um do outro.
De início, a convivência era afetada maioritariamente de forma negativa por estas diferenças. Da parte do Tomás, os grandes motivos destas dificuldades eram a preocupação pela saúde e nutrição adequada da namorada e sentimentos de julgamento por parte da Ana quando escolhia ele comer carne. Nas suas palavras – “quando me dirigia à secção da carne no supermercado, ela não escondia uma careta, o que me fazia sentir mal”. Menos importante, mas igualmente negativa era a hora das refeições. Tomás não esconde uma certa tristeza por não poder partilhar as suas comidas preferidas com Ana e queixa-se da dificuldade de escolher um restaurante, principalmente há uns anos, quando ainda não havia toda esta oferta.
Para Ana, por outro lado, a maior dificuldade foi a gestão das suas diferenças a nível de valores e de tolerância no que diz respeito à parte ética e ambiental do veganismo. Sendo, por vezes, difícil aceitar que o parceiro não veja as coisas da mesma forma. Mas é preciso aceitar que as pessoas são diferentes, e que algo que parece óbvio para uma parte, pode não ser claro para outra. O importante é haver respeito mútuo, ter paciência, e comunicar.
Em relação aos aspetos da convivência que acabaram por ser afetados positivamente pelas suas diferenças, ambos concordam que a sua dieta se tornou mais variada e saudável. Ana acrescenta ainda que esta divergência obrigou a que aprendesse a fazer cedências e a ser mais tolerante.
Agora, encontrar e experimentar restaurantes novos e diferentes, tornou-se uma espécie de aventura e o resultado é (quase) sempre muito positivo. Nos dias que correm, e apesar de a alimentação da casa se ter tornado maioritariamente vegan, conseguem equilibrar bem as suas divergências alimentares quando estas surgem. Para casais na mesma situação afirmam que o mais importante é aprender a trabalhar em conjunto e experimentar o máximo de receitas possíveis, mantendo uma mente aberta a novas cozinhas e produtos.
Concessões mútuas que permitem um equilíbrio sereno
Trazemos-te agora a história de outro casal, Ana e Alex, colegas no secundário e na faculdade na década de 90. Depois de várias vidas, cruzaram-se na rua da Alegria no início de 2018. Um encontro casual que se repetiria meses depois. Primeiro na casa dele, depois na casa dela. Estão juntos desde setembro de 2018.
Ana deixou os alimentos de origem animal em 2012, à exceção dos ovos caseiros que ainda fazem parte da sua alimentação (não por muito mais tempo, afirma). Alex (quase que só) gosta da comida tradicional portuguesa – está a reduzir, de forma paulatina, a quantidade de produtos de origem animal.
Nos primeiros encontros, as refeições eram sempre em modo vegano. Alex procurava agradar Ana. Lisonjeada, Ana agradecia e tentava mostrar o quão importante é, para si, viver de forma consciente. Consumindo de modo sóbrio, procurando respeitar todos os seres vivos, assim como os limites do Planeta. Alex escutava. Foi refletindo. Quando convidou Ana para sua casa, as concessões foram mútuas em vários aspectos… É provável que seja assim com todas as pessoas que decidem partilhar espaços e vidas.
Gostam ambos de cozinhar. No dia a dia, as tarefas são divididas. Um prepara a refeição, o outro arruma a cozinha. Na maioria das vezes, existe uma parte que é comum – o arroz malandro com feijão, por exemplo, acompanha um hambúrguer de lentilhas para ela e para ele – às vezes. O Alex ainda prefere algo mais substancial. Sobretudo com um sabor que reconheça.
Entendem-se bem. O Alex trata da horta e compra o que gosta. A Ana ajuda na horta e compra a maioria dos produtos da casa – menos os de origem animal. Não quer olhar, tão-pouco cortar ou embalar o que for de conservar no congelador. A Ana é capaz de temperar e grelhar, por exemplo, o que o Alex escolher para a sua refeição. Mas fica por aí.
Quando a Ana faz experiências, o Alex aprova. Prefere, porém, algo que reconheça; como se o seu corpo (ainda) não soubesse descodificar o que se lhe apresenta como jantar. Às vezes tem necessidade de compensar – se dois dias sem a comida a que está habituado, ao terceiro exagera na dose de proteína animal. Esta é a percepção da Ana.
Para o Alex é tranquilo. Nada o incomoda. A não ser quando a Ana suja muita loiça nas suas experiências – que nem sempre resultam… A Ana gostaria que o Alex deixasse o consumo de produtos de origem animal, mas sabe que cada pessoa tem o seu tempo e o seu percurso.
Caminham juntos, conversam e acreditam no respeito mútuo. Vivem nesse equilíbrio, com serenidade.
Algumas dicas extra para um relacionamento feliz
Como vimos através destas experiências de vida genuinamente partilhadas pelas nossas colegas, é perfeitamente possível manter um relacionamento saudável e equilibrado, apesar das diferenças alimentares que possam existir entre companheiros/as de vida. O mais importante é sabermos comunicar as nossas necessidades e sabermos escutar igualmente as da pessoa que nos acompanha, mantendo uma postura flexível e inclusiva.
Aqui ficam algumas dicas para o dia-a-dia com o teu companheiro ou companheira não vegetarianos:
- Não culpabilizes a outra pessoa por não ser vegetariana
- Não tentes forçá-la a tornar-se vegetariana
- Tenta encontrar restaurantes com opções que agradem a ambas as partes
- Cozinhem juntos/as alguns pratos que podem ser feitos em ambas versões: veg e não-veg
- Comuniquem abertamente sobre as vossas diferenças para encontrarem um meio termo
- Dá a provar à tua cara metade alimentos vegetarianos que a surpreendam positivamente
- Lembra-te de que ninguém está certo ou errado: são apenas visões de mundo diferentes!
Artigo original por Tatiana Abreu em colaboração com Ana Luísa Pereira e Ana Beatriz Salgado