Se definirmos o amor como um sentimento de forte afeição por parte de um indivíduo por outro, a neurociência diz-nos hoje que muitos dos animais que conhecemos possuem, tal como nós, os atributos fisiológicos necessários para realizar a experiência do amor. Em termos comportamentais, é comum encontrarmos nos animais evidências maravilhosas de situações que implicam cuidado, empatia e até mesmo luto pelos seres que mais amam. Mas de que maneira os animais expressam esse afeto?
O afeto entre animais e humanos
Já muitos de nós experienciámos – ou conhecemos alguém que conheça a – o entusiasmo e a excitação manifestados por parte de um companheiro animal ao voltarmos a casa e reencontrá-lo depois de um dia fora. Não será por acaso que o cão é denominado o “melhor amigo do Homem”. Mas será que esse sentimento demonstrado sob forma de pulos, lambidas e latidos reflete o amor que o nosso amigo sente por nós? Estudos científicos comprovam que os níveis de oxitocina – a “hormona do amor” – se intensificam tanto nos cães como nos seus donos quando eles interagem dessa maneira e nos olham nos olhos, o que ajuda a fortalecer o vínculo afetivo que existe entre as duas partes.
As histórias de afeto entre cães e humanos, entre humanos e gatos ou até entre cavalos e humanos, são provavelmente aquelas de que mais ouvimos falar, mas desenganemo-nos se pensarmos que estas espécies animais domesticadas são as únicas que expressam o seu afeto incondicional por seres-humanos.
Alguns de nós conheceremos talvez a história do pinguim Dindin que se tornou amigo de um pescador brasileiro e que todos os anos nadava milhares de quilómetros para reencontrá-lo. Ou o relato maravilhoso do mergulhador japonês Hiroyuki Arawaka, que se tornou há mais de 25 anos amigo do peixe Yoriko com quem se encontra regularmente debaixo de água. Outro exemplo surpreendente será a incrível relação de amizade que se desenvolve entre um polvo e o realizador Craig Foster, protagonistas do documentário “My Octopus Teacher”, um original da Netflix.
O afeto entre animais da mesma espécie
Entre animais da mesma espécie, encontramos diversas formas de demonstração de afeto, consoante a espécie de que falamos. Como se cada espécie tivesse encontrado a maneira mais adequada de fazê-lo atendendo às suas características físicas. As lontras marinhas dormem flutuando na água de mãos dadas. Os elefantes enrolam as suas trompas uma na outra. Girafas, cangurus e veados lambem os seus seres amados. Os esquilos esfregam os narizes um no outro. Os chimpanzés demonstram amor através de uma minuciosa inspeção de pele e de pêlo para remoção de sujeiras e parasitas (piolhos incluídos, sim!).
A ciência afirma há já bastante tempo que o comportamento sexual da grande maioria dos animais, à excepção dos humanos, porcos, bonobos, golfinhos e algumas espécies de primatas, não envolve necessariamente uma relação de amor, carinho ou prazer. Segundo esta teoria, o ato sexual, para muitas, senão quase todas as espécies existentes na Terra, teria como único intuito a reprodução da espécie.
No entanto, esta percepção é hoje considerada um equívoco por alguns cientistas especializados no assunto, como é o caso de Jonathan Balcombe. O etólogo britânico argumenta que a prevalência de comportamento sexual não reprodutivo em certas espécies sugere que a estimulação sexual possa ser prazerosa para essas espécies.
E quer os animais sintam prazer ou não durante o ato sexual, isso não invalida o facto de que eles procurem dar e receber afeto, como vimos com os diferentes exemplos demonstrados um pouco mais acima!
O afeto entre animais de diferentes espécies
Para além das relações de amizade entre animais interespécies que já mencionámos entre os humanos e os animais (sim, porque nós também somos animais, é importante não esquecermos!), existem outros casos de indivíduos de espécies distintas que também formam relações afetuosas verdadeiramente bonitas.
A autora Jennifer S. Holland decidiu compilar algumas histórias de animais de espécies diferentes que se tornaram amigos. A obra chama-se “Unlikely Friends” (Amigos Improváveis) e a autora conta também com vários textos publicados na National Geographic. Uma das suas histórias mais comoventes é a da cadela Lisha, uma labradora sul-africana que já cuidou de várias ninhadas de animais selvagens como leopardos ou hipopótamos que ficaram órfãos ou que se viram rejeitados pelas mães. Em outro contexto, no Quénia, Mzee, uma tartaruga com 130 anos tornou-se a mãe adotiva de um pequeno hipopótamo chamado Owen que ficou órfão após o tsunami de 2004. São hoje inseparáveis!
Amor, amizade, afeto… são sentimentos que não são, de todo, exclusivos dos humanos. E como vimos, existem maneiras muito originais e histórias bem atípicas para demonstrá-lo dentro do mundo animal.
Feliz Dia do Amor a tod@s!
Autoria: Tatiana Abreu
Ilustração: Mónica Milheiro