Elon Musk, as soluções de combate às alterações climáticas vão para lá dos veículos elétricos. Para o bem do planeta, o empreendedor bilionário deveria aplicar o seu dinheiro e influência em investimentos de impacto.

É inegável que Musk se preocupa com as emissões de carbono. A sua empresa de carros, a Tesla, substituiu os assentos de pele por materiais vegan em todos os seus veículos, sendo o Modelo 3 e o Modelo Y completamente vegan a partir de 2020.

Todas as patentes da Tesla são públicas de forma a encorajar mais fabricantes a desenvolver veículos elétricos. Elon Musk recentemente lançou uma competição, com um prémio de 100 milhões de dólares, para o desenvolvimento de uma tecnologia inovadora de captação de carbono. Notavelmente, o dono da Tesla ainda não investiu no mercado dos alimentos de base vegetal.

Mas não é o único. Muitos dos grandes e mais influentes investidores de impacto, que acontece pertencerem também ao grupo das pessoas mais ricas do planeta, são abertos em relação à sua vontade de liderar no que diz respeito às mudanças ambientais positivas.

Os magnatas da tecnologia envolvidos no mercado de capital de risco afirmam estar empenhados em reduzir a crise climática e têm vindo a fazer investimentos substanciais em energia limpa, saúde, e programas sociais. Todas estas são causas importantes, mas um investimento no sector dos alimentos à base de plantas tem o potencial para ter um impacto ainda maior nos objetivos visionados.

Jeff Bezos tem feito vários investimentos no sector dos alimentos de origem vegetal. Em 2019, este investiu na marca vegan NotCo. Bezos, juntamente com Richard Branson e Bill Gates, lideraram um investimento de 90 milhões de dólares na rodada de financiamento da start-up vegan Motif Ingredientes. Bill Gates investiu também nas marcas Beyond Meat e Impossible Foods.

No entanto, Elon Musk tem ainda que fazer o seu primeiro investimento no mercado dos produtos de base vegetal. Seguem-se várias razões pelas quais este sector deveria ser o foco dos investidores.

As 4 Principais Razões para Investir em Alimentos de Origem Vegetal

Aquecimento Global

Musk publicou no Twitter que “se todas as pessoas adotassem uma alimentação vegan, tal não iria parar as alterações climáticas”. Os peritos no tema discordam e encontraram evidência de que se todo o mundo fosse vegan, as emissões associadas à indústria alimentar diminuiriam 70%.

A pecuária é responsável por aproximadamente 87% da emissão de gases de efeito de estufa através da produção de rações; utilização de recursos naturais como a água; desflorestação; e da libertação de metano, que é exacerbada pela alimentação dos animais com uma dieta pouco natural à base de cereais. Quase 1/3 de toda a poluição de carbono do planeta advém das emissões de GEE da indústria alimentar.

A criação de gado gera mais GEE do que o escape do sector dos transportes. Um relatório da Natural Resources Defense Council descobriu que uma redução no consumo de carne de vaca de 19% de 2005 a 2014 reduziria as emissões de carbono equivalentes a menos 39 milhões de carros nos Estados Unidos da América.

Conduzir um Tesla é óptimo para combater o aquecimento global, mas adotar o veganismo é melhor. Nos Estados Unidos, os vegans são responsáveis por menos de 10% das emissões de GEE a nível da alimentação. Estima-se que até 2050 o sector alimentar seja responsável por mais de metade das emissões globais humanas. Isto é, a não ser que mais pessoas adotem uma alimentação à base de plantas.

Desflorestação

A pecuária é o maior responsável pela desflorestação, um problema ambiental que também contribui para a emissão de gases de efeito de estufa.

Concentrar os investimentos de impacto em alimentos de origem vegetal reduz a desflorestação, e o consumo de recursos naturais como a água e o solo – todos eles contribuidores para a crise climática. Não menos que 60% da perda de biodiversidade a nível mundial é da responsabilidade da produção de gado. O World Wildlife Fund afirma que uma redução de 50% da produção no sector da pecuária, protegeria os habitantes das florestas e poderia salvar 30% da biodiversidade.

No Brasil, onde o frágil ecossistema da Amazónia está em risco, 80% do uso do território convertido na região, é utilizado para produção de gado, de acordo com o World Bank. Surpreendentemente, 80% da desflorestação da Amazónia é também ilegal.

Desde 2000, que a desflorestação é responsável por 75% das emissões de GEE do Brasil. Ainda assim, de forma a responder à procura por carne, o Brasil exportou 1.8 milhões de toneladas de carne de vaca em 2018. O tamanho das manadas de gado brasileiro cresceu de 158 milhões em 1986 para 219 milhões em 2016.

Saúde Humana

Um estudo de 2016 publicado na Proceedings of the National Academy of Science descobriu que uma alteração da alimentação a nível global para uma dieta de origem 100% vegetal poderia salvar mais de 8 milhões de vidas anualmente, e reduzir as emissões de GEE do sector alimentar por 2/3.

O consumo de carne pode causar um aumento no risco de doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro, e diabetes tipo II. Se os investidores de impacto estão verdadeiramente preocupados com a saúde, deveriam apoiar empresas de produtos alimentares vegetais e retirar o capital investido na indústria da carne.

Uma dieta vegan saudável caracteriza-se por um elevado teor em fibras, vitaminas, e antioxidantes. E numa redução do consumo de sal, gorduras saturadas, açúcares, e colesterol, todos contribuidores para problemas de saúde. Muitas das pessoas que optam por dietas à base de plantas têm níveis de colesterol e pressão arterial mais baixos, o que minimiza o risco de doenças cardíacas. Os vegans poderão ser também menos suscetíveis a desenvolver diabetes tipo II.

Retorno/Lucro

Uma dieta de base vegetal é a dieta mais sustentável a nível ambiental, e está também a tornar-se rapidamente num investimento lucrativo. Em 2019, as vendas de alimentos de origem vegetal cresceram 11.4% para 5 mil milhões de dólares, enquanto, no total, o sector alimentar Americano cresceu apenas 2%.

No sector da alimentação vegetal, o leite e laticínios vegan foram os produtos com maior crescimento. A expectativa é que o mercado para produtos deste sector cresça 28% a cada ano nesta década. E ainda existe muito espaço para crescer. Categorias como os ovos e o marisco de origem vegetal ainda têm um grande potencial de crescimento. E as proteínas alternativas como as fermentadas e à base de algas estão apenas agora a começar a ser exploradas.

Algumas das maiores empresas de carne do mundo, incluindo a Tyson, a JBS, e a Hormel, veem potencial para lucro no sector da alimentação à base de plantas, e investiram e produziram as suas próprias alternativas vegetais.

As marcas de origem vegetal também não foram esquecidas. Afinal, não deverão os lucros ir para aqueles que mais se preocupam em provocar mudança?

Beyond Meat, Laird Superfood, Natural Order Acquisition Corp., e The Very Good Butchers estão entre as marcas vegan mais conhecidas, tendo vários investidores de renome desde Gates a Leonardo DiCaprio, e até mesmo Oprah (mas não Musk).

Investir com consciência pode ter parecido um oxímoro em tempos, mas atualmente, investimentos de impacto são verdadeiramente lucrativos. E com estudos de mercado que demonstram que o consumo consciente está aqui para ficar, não existe melhor momento do que o presente para investir no futuro do planeta.

Investir no sector da alimentação de origem vegetal apoia o combate às alterações climáticas, promove o bem-estar animal, e prioriza os direitos humanos. Investimentos de impacto realizados por Musk e por outros indivíduos comprometidos em solucionar a crise climática, devem espelhar as suas preocupações na criação de um futuro sustentável.

Não é preciso ser um empreendedor das novas tecnologias rico para ser parte da mudança. O mercado dos produtos à base de plantas está a crescer a um ritmo semelhante à explosão da internet. Investir em empresas registadas publicamente é cada vez mais acessível ao público em geral, independente dos rendimentos.

Posto de forma simples, o maior impacto que um indivíduo que procura gerar mudança positiva no mundo pode ter com um investimento, é focando-se na alimentação de origem vegetal.

Fonte: Live Kindly 

Tradução por: Ana Beatriz