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Novo Relatório ProVeg Portugal: Proposta de inclusão da sustentabilidade ambiental na Roda dos Alimentos Portuguesa

Documento pioneiro sugere mudanças na Roda dos Alimentos Portuguesa, com o objetivo de integrar a sustentabilidade ambiental nas diretrizes alimentares nacionais, com benefícios para a saúde pública.
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A ProVeg Portugal anuncia hoje o lançamento de uma Proposta para Inclusão da Sustentabilidade Ambiental nas Recomendações Alimentares, em colaboração com 14 especialistas em nutrição e três organizações que atuam na área, incluindo a Ordem dos Nutricionistas e a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP). Este documento pioneiro sugere mudanças na Roda dos Alimentos Portuguesa, com o objetivo de integrar a sustentabilidade ambiental nas diretrizes alimentares nacionais, com benefícios para a saúde pública.

Os sistemas alimentares globais são responsáveis por 25 a 30%1 das emissões de gases com efeito de estufa, cerca de 70%2 do uso de água doce e desempenham um papel central na perda de biodiversidade. Em Portugal, a alimentação representa cerca de 30%3 da pegada ecológica nacional, destacando o impacto dos hábitos alimentares na sustentabilidade ambiental. Diante da crise climática e da crescente degradação dos recursos naturais, alinhar a nutrição com a proteção do planeta torna-se uma necessidade. Estudo após estudo demonstra que privilegiar alimentos de origem vegetal não apenas reduz a pegada ecológica, como também oferece benefícios para a saúde, contribuindo para a prevenção de doenças crónicas.4,5

A Roda dos Alimentos Portuguesa, que não sofre alterações desde 2003, já não reflete tendências alimentares atuais, nem os desafios relacionados com o ambiente e a saúde pública. O relatório sugere uma atualização da Roda dos Alimentos, incorporando alternativas vegetais e reestruturando alguns grupos alimentares para atender aos principais desafios do sistema alimentar nacional. As propostas incluem:

  • Incorporação de alternativas à carne: tofu, soja texturizada e seitan.
  • Incorporação de alternativas aos laticínios: bebidas e iogurtes à base de soja.
  • Reestruturação dos grupos alimentares:
    • Aumento do grupo das leguminosas.
    • Criação de um grupo específico para frutos gordos e sementes.

O relatório constitui um diagnóstico aprofundado sobre os impactos que a alimentação tem na saúde e no ambiente, apresentando uma proposta técnica para a atualização das diretrizes alimentares nacionais. Propõe, assim, uma nova Roda dos Alimentos e respetivas porções por grupo alimentar (novo ou reestruturado), para três cenários de necessidades energéticas.

Para Lucas Oliveira, nutricionista e principal autor do documento, “Embora a ingestão proteica média em Portugal esteja dentro dos parâmetros recomendados, a origem das proteínas consumidas revela um desequilíbrio significativo. 65% das fontes de proteína da população são de origem animal, quando as diretrizes alimentares recomendam que 65% devem ser provenientes de fontes vegetais. Recomendar mais opções alimentares que visem aumentar a ingestão de proteínas vegetais é fundamental para promover uma alimentação mais saudável e sustentável e passa uma mensagem compatível com os atuais desafios do consumo alimentar. Consumir mais fontes proteicas vegetais pode reduzir significativamente a pegada ecológica da alimentação, ao mesmo tempo que proporciona benefícios para a saúde da população portuguesa.”

Os alimentos de origem animal são os que, em geral, possuem a maior pegada ecológica: utilizam mais recursos hídricos e solo arável e geram mais gases de efeito de estufa, por caloria e por quilograma de alimento produzido, do que a grande maioria dos alimentos de origem vegetal. Um importante passo para a mudança dos padrões alimentares é a identificação dos alimentos que apresentam benefícios para o ambiente e não estão associados a consequências indesejadas para a saúde, isto é, que sejam simultaneamente saudáveis e ambientalmente sustentáveis.

As alterações propostas neste novo relatório têm como objetivo alinhar as recomendações alimentares de Portugal com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Dieta da Saúde Planetária, uma referência global que une nutrição e sustentabilidade, e as mais recentes tendências de consumo, mantendo a ligação com a cultura portuguesa e os princípios da Roda dos Alimentos Mediterrânica. 

Segundo Lucas Oliveira, “Entre as propostas do novo relatório está o aumento do grupo das leguminosas, que já desfrutam de uma presença consolidada nos hábitos alimentares tradicionais de Portugal, e a inclusão dos frutos gordos, característicos da dieta mediterrânica mas que, atualmente, ocupam uma posição acessória nas recomendações alimentares oficiais.”

Em relação à necessidade de alinhar a Roda dos Alimentos com as tendências de consumo, Joana Oliveira, da Direção da ProVeg Portugal, afirma que “um exemplo claro da necessidade de incorporar novos produtos pode ser observado na crescente popularidade das bebidas vegetais. Estas já representam 10% do mercado global de leites, refletindo as preferências dos consumidores, que procuram opções mais sustentáveis, saudáveis, éticas ou que, devido a alergias ou intolerâncias, optam por tais alternativas. Destaque para a bebida de soja fortificada com cálcio com uma presença cada vez maior e mais acessível nas lojas de retalho alimentar, mas ainda sem presença na atual Roda dos Alimentos.”

A iniciativa da ProVeg Portugal sinaliza uma mudança necessária para alinhar a alimentação com os desafios globais de sustentabilidade e saúde. Ao propor uma atualização da Roda dos Alimentos, a organização não apenas promove uma nutrição mais equilibrada, mas também incentiva escolhas conscientes que beneficiem o planeta. Este é um passo importante para integrar práticas alimentares mais responsáveis na cultura e no quotidiano dos portugueses.

Referências

  1. Theurl, Michaela C., Christian Lauk, Gerald Kalt, Andreas Mayer, Katrin Kaltenegger, Tiago G. Morais, Ricardo F.M. Teixeira, Tiago Domingos, Wilfried Winiwarter, Karl-Heinz Erb, and Helmut Haberl. (2020). Food systems in a zero-deforestation world: Dietary change is more important than intensification for climate targets in 2050. Science of The Total Environment 735:139353. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.139353.
  2. FAO. (2011). The state of the world’s land and water resources for food and agriculture (SOLAW) – Managing systems at risk. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome and Earthscan, London.
  3. Galli, Alessandro, Sara Moreno Pires, Katsunori Iha, Armando Abrunhosa Alves, David Lin, Maria Serena Mancini, and Filipe Teles. (2020). Sustainable food transition in Portugal: Assessing the Footprint of dietary choices and gaps in national and local food policies. Science of The Total Environment 749:141307. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.141307.
  4. Capodici A, Mocciaro G, Gori D, Landry MJ, Masini A, et al. (2024) Cardiovascular health and cancer risk associated with plant based diets: An umbrella review. PLOS ONE 19(5): e0300711. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0300711
  5. Fehér, András & Gazdecki, Michał & Véha, Miklós & Szakály, Márk & Szakály, Zoltán. (2020). A Comprehensive Review of the Benefits of and the Barriers to the Switch to a Plant-Based Diet. Sustainability. 12. 4136. 10.3390/su12104136.

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