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Pode uma alimentação natural precisar de suplementos?

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Por Jack Norris (dietista, co-autor do livro Vegan for Life e co-fundador da organização Vegan Outreach) | Última actualização: Janeiro, 2014

Se admitirmos que os veganos precisam de obter vitamina B12 através de suplementos ou alimentos fortificados, estamos a dizer que uma alimentação vegana não é natural?
Um ponto a considerar é que as fezes contêm grandes quantidades de vitamina B12, produzidas por bactérias no cólon. Se nos encontrássemos num estado de natureza e ainda quiséssemos ser veganos, poderíamos obter B12 suficiente a partir das fezes, apesar de que seria importante fazer esforços para ter a certeza que as bactérias fossem mortas e os vírus neutralizados. Reconhecidamente, isto não é extraordinariamente apetitoso.
É também possível, se nós não quiséssemos matar vertebrados ou comer os seus ovos e leite, que os humanos pudessem obter quantidades substanciais de vitamina B12 a partir de insectos e outros bichos.
Uma coisa que nos separa dos nossos ancestrais pré-históricos é que nós vivemos muito mais e os baixos níveis de B12 têm mais tempo para se tornarem um problema. Enquanto que as pessoas podem ter sobrevivido, no passado, com menos B12, agora que vivemos até aos 80 e 90 anos, temos que nos prevenir em relação à demência causada por deficiência de B12.
Hoje, na sociedade ocidental, é fácil para os veganos garantirem um consumo adequado de B12. Os veganos que se suplementam com B12 têm níveis de B12 superiores a não-vegetarianos que não se suplementam. De facto, devido à diminuição, com o envelhecimento, da habilidade de absorver B12 de produtos animais, o Conselho de Alimentação e Nutrição diz que todas as pessoas (não apenas veganos) com mais de 50 anos devem “atingir a sua RDA [análogo da DDR, dose diária recomendada] principalmente através do consumo de alimentos fortificados com B12 ou de suplementos que contenham B12.” 

A Alimentação Vegana é Natural?

A alimentação vegana é natural? Para responder a esta questão, eu recomendo um artigo que examina o assunto com grande detalhe, Comparative Anatomy and Physiology Brought Up to Date: Are Humans Natural Frugivores/Vegetarians, or Omnivores/Faunivores? [Anatomia e Fisiologia Comparada Actualizada: São os Humanos Frugívoros/Vegetarianos Naturais ou Omnivoros/Faunívoros Naturais?] por Tom Billings. Depois de uma extensa revisão de investigações, Billings concluí que os humanos não são veganos ou vegetarianos naturais. Apesar disto, ele diz:

Sou tanto pro-vegetariano como pro-[comer comida crua como grande parte da alimentação]. Os leitores devem ser informados de que sou vegetariano desde há muito tempo (desde 1970), e que durante bom número de anos (+ de 8 anos) fui frugívoro (também um ex-vegano), … No entanto, não sou, definitivamente, um promotor de, ou um “missionário” para, qualquer tipo de alimentação específica. Na realidade, estou cansado de ver as dietas crudívoras e [veganas/vegetarianas] promovidas de formas negativas por extremistas cujo comportamento hóstil e desonesto é uma traição aos princípios morais positivos que estão supostamente no coração do veg*ismo

Ele continua:

Tu não precisas do argumento da naturalidade para ser vegano/vegetariano! Isto é, apenas razões morais/espirituais são adequadas para justificar a adopção de uma alimentação vegana/vegetariana (assumindo que essa alimentação resulta para ti, é claro). Mais, se a motivação para a tua alimentação é moral e/ou espiritual, então tu vais querer que a base da tua alimentação seja honesta assim como compassiva. Nesse caso, descartar os mitos falsos de naturalidade não apresenta nenhum problema; aliás, descartar mitos falsos significa que estás a descartar um fardo.

Os leitores podem também estar interessados no artigo Humans are Omnivores (Humanos são Omnívoros), adaptado de uma palestra de John McArdle, PhD (publicado originalmente na edição de Maio/Junho do Vegetarian Journal). O blog PaleoVeganology também tem informação interessante sobre as dietas dos nossos ancestrais.

Que Tipo de Alimentação é Realmente Natural?
Eu estou grato que os meus ancestrais tenham sobrevivido a vidas que eram desagradáveis, brutais, e curtas, para que eventualmente me fosse possível passar várias horas por dia no meu MacBook a escrever, mas eu já vivi mais do que eles, alimentando-me de uma grande proporção de comida que eles não reconheceriam e tomando suplementos como criança e como adulto.
A ideia de que uma alimentação pré-histórica poderia ser hoje aproximadamente adoptada ou que seria a melhor alimentação possível, é realmente questionável. As plantas e carnes comerciais de hoje são diferentes dos alimentos disponíveis em tempos pré-históricos. Nós comemos híbridos de plantas e damos aos animais de quinta alimentos que eles normalmente não comeriam. É tipicamente dado a animais de quinta uma larga variedade de suplementos juntamente com a sua ração. A oferta alimentar dos Estados Unidos é rotineiramente fortificada com várias vitaminas e minerais (como vitamina D no leite) e a maioria das pessoas que tentam adoptar uma alimentação que consideram mais natural, como adultos beneficiaram desta suplementação. Nos últimos duzentos anos, a ciência nutricional resolveu todo o tipo de problemas de saúde sérios que atormentaram a humanidade durante eras.
Eu não tento ser como os meus ancestrais pré-históricos de que maneira for. Apesar de haver excepções, comer carne é uma das poucas coisas que a maioria das pessoas tentam fazer que é “natural”. Os defensores da alimentação paleolítica são provavelmente os apologistas da alimentação natural mais vocíferos e anti-vegetarianos. No entanto, eles raramente comem insectos, larvas e minhocas, que, de acordo com o Paleoveganology no seu post What, No Bugs?! [O Quê, Sem Insectos?], “forneceram, durante muito tempo, nutrientes a humanos e outros primatas e continuam a fazê-lo hoje na maioria das partes do mundo”
Actualização de Janeiro 2014: Na realidade, isto pode estar a mudar, com algumas pessoas que seguem uma alimentação paleo a criarem barras energéticas de grilo (ver Energy Bars That a Chirp in Your Step).

Futuro da Investigação em Veganos
Muitos veganos são compreensivelmente cépticos em relação à comunidade médica e científica. Mas ao recusar-nos a aceitar as evidências científicas a favor da necessidade de suplementação com B12, nós fornecemos um fluxo de veganos com problemas de saúde para a comunidade médica estudar. Se és cauteloso em relação à comunidade médica, o melhor que podes fazer é garantir que não desenvolves deficiências de B12 e que não te tornes um dos seus pacientes.
Apesar de estar grato de que investigação tenha sido feita em veganos que não se suplementam com B12, já chega. É responsabilidade da comunidade vegana parar o fluxo de sujeitos para pesquisa. Quando os investigadores decidem fazer estudos em que examinam os problemas de saúde dos veganos que não se suplementam com B12, seria melhor que eles simplesmente não encontrassem nenhum.

Encoraja os Novos Veganos a Tomarem B12
Todos os defensores do veganismo devem estar cientes dos sintomas de deficiência evidente de B12 (com a consciência de que deficiência moderada de B12 poderá, ao longo do tempo, também levar a problemas que não são tão óbvios) e da necessidade de novos veganos começarem a suplementarem-se com B12 pouco tempo depois de se tornarem veganos (ou até quase-veganos).

Tradução: Luís Campos
Traduzido com permisão do autor
Original:http://www.veganhealth.org/b12/natural
Ilustração: Inês Pessoa

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