UMA VIDA COM OS DIAS CONTADOS
Todos os dias milhares de animais em Portugal vêem a sua vida terminada precocemente, de uma forma violenta e brutal. Muitas vezes o dia da sua morte é também o primeiro e único dia em que têm a oportunidade de sentir o ar fresco ou sol, antes de chegaram ao seu destino final. O que talvez inicialmente lhes parecesse ser o fim da sua curta vida repleta de sofrimento, representa afinal os últimos momentos em que estarão vivos.
Sabíamos que cerca de 70 mil milhões de animais eram mortos globalmente para consumo humano. E no nosso país? Continua a ler abaixo para perceberes a dimensão deste problema em Portugal. Estes são dados relativos ao número de animais abatidos no nosso país para consumo humano, em 2018.
OS NÚMEROS
De acordo com dados da DGAV (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária), no ano de 2018, o número de total de indivíduos (mamíferos e aves) mortos em Portugal foi de quase 257 milhões, no total, cerca de 25 vezes a população do nosso país (10 milhões).
Comparando as dimensões dos números lado a lado, podemos ficar com uma ideia mais concreta da problemática, conforme visto no gráfico abaixo.
Já os indivíduos aquáticos capturados para consumo, em termos de peso, ascendem a mais de 128 mil toneladas, segundo dados do INE. Este número não contempla a captura ilegal ou os indivíduos capturados e descartados, nem os capturados fora de portos nacionais.
CADA SEGUNDO CONTA
Com a finalidade de compreendermos a dimensão ética da produção e abate de animais em Portugal, optamos por apresentar alguns dos números em métricas mais intuitivas, como o número de animais abatidos diariamente, a cada hora, minuto ou até mesmo segundo. Consideramos as 52 semanas que existem num ano e 251 dias de trabalho (5 dias por semana), uma vez que os matadouros em Portugal não operam aos fins-de-semana.
AS AVES
As aves são de longe os animais mais sacrificados em Portugal, e os números ascendem às centenas de milhões, todos os anos. Nos últimos anos, com o crescimento do alarme público em relação a carnes vermelhas, o consumo de carnes de aves aumentou e, assim, infelizmente, também o número de indivíduos sacrificados para consumo humano.
Para ficarmos com uma ideia mais concreta, observamos que, todos os dias, quase 1 milhão de aves são mortas para fins de consumo humano. Pegando em alguns exemplos particulares, a cada dia, são mortas 871.000 galinhas, 16.752 patos e 13.985 perus.
SABIAS QUE
- A cada hora, mais de 108.000 galinhas são mortas
- A cada minuto, morrem mais de 1.815 galinhas
- A cada segundo são abatidas 30 galinhas.
Na tabela abaixo podem ser observadas as médias de animais abatidos por mês, por semana, por dia (assim como por hora, minuto e segundo), em Portugal, relativamente às aves. No nosso país as aves mais comummente abatidas para consumo são: galinhas (frangos, galos, galinhas poedeiras, etc.), patos, perus, codornizes, perdizes e pintadas.
OS MAMÍFEROS
Em Portugal, todos os dias mais de 45 mil mamíferos são mortos para consumo humano. Desses, 6396 são indivíduos ainda no início de vida: bovinos juvenis e leitões. Mais uma vez, para conseguirmos intuir a dimensão do abate destes animais sencientes, recorremos a algumas médias por dia, hora ou minuto.
SABIAS QUE
- A cada dia, mais de 17.000 porcos são mortos
- A cada hora, são mortos 142 bezerros
- A cada minuto, morrem 36 porcos e 10 leitões
Na tabela abaixo podem ser observadas as médias de abate dos vários mamíferos, por mês, por semana, por dia (assim como por hora, minuto e segundo), em Portugal.
TOTAL DE ABATES EM PORTUGAL (EM 2018)
A cada dia: 945 809 animais;
A cada hora: 123 154 animais;
A cada minuto: 2053 animais;
A cada segundo: 35 animais.
Nota: Estes dados são baseados em 251 dias por ano e 8 horas por dia, a estimativa de dias e horas em que os matadouros estão em serviço.
O TOTAL DOS ANIMAIS ABATIDOS
O ABATE DE ANIMAIS TERRESTRES EM PERSPECTIVA
Como podemos observar no gráfico, a esmagadora maioria dos animais abatidos para consumo humano (88,88%) são Galinhas, com os restantes animais – como Patos, Perus, Coelhos e Lebres, Suínos, Ovinos e Caprinos – a não ultrapassar mais de 2%, individualmente. A percentagem “Outros” representa Cavalos, Burros, Javalis, Veados, Avestruzes, Codornizes, Pintadas, Perdizes.
O número de aves abatidas em 2018 foi um total de mais de 245 milhões, sendo as Galinhas as maiores vítimas, contabilizando mais de 228 milhões de abates.
Comparando de outro modo entre as espécies de aves mortas para consumo humano, as Galinhas representam 92,97% do abates, seguidas dos Patos (1,71%) e Perus (1,43%). A percentagem “Outros” representa Avestruzes, Codornizes, Pintadas e Perdizes.
Como podemos verificar no gráfico, Coelhos, Lebres e Suínos são os mamíferos mais abatidos no nosso país, ultrapassando conjuntamente os 870 milhões de indivíduos.
Para além disto, mais de 1 milhão e 300 mil foram abatidos ainda no início de vida, com apenas alguns meses de idade (Leitões e Bovinos juvenis).
Em termos de percentagens, Suínos e Coelhos e Lebres representam 77,24% do indivíduos abatidos. A percentagem “outros” representa Cavalos, Burros, Javalis e Veados.
OS ANIMAIS MARINHOS
Portugal é também o maior consumidor de peixe da União Europeia e o terceiro maior consumidor de peixe do mundo, sendo só ultrapassado pela Coreia e Noruega. O consumo de peixe tem vindo a aumentar imensuravelmente sendo uma ameaça ao meio ambiente, à população marinha e à sustentabilidade do planeta.
O peixe é consumido pelos portugueses em grandes quantidades, levando a que a sua pesca exceda frequentemente as quotas recomendadas e coloque em risco inúmeras espécies de animais.
De todas as espécies de animais aquáticos, os Peixes Marinhos são os que mais são retirados do seu habitat e mortos para consumo humano, representando cerca de 107.996 toneladas, de acordo com dados do INE, seguidos dos Moluscos (18.707 toneladas) e dos Crustáceos (1393 toneladas).
Dos indivíduos marinhos, os mais pescados em Portugal são a Cavala (57%), seguido do Carapau (27%) e da Sardinha (16%).
Dos moluscos, o Polvo (52%) é o mais capturado, seguido do Berbigão (40%) e do Choco (8%).
A ALTERNATIVA
Existe uma alternativa para estes animais. Não temos que os abandonar ao sofrimento e à morte, nem temos que recear que subitamente invadam toda a superfície terrestre se os deixarmos de comer.
Em Portugal já existem excelentes exemplos pedagógicos de como os animais de quinta podem viver uma vida longa e livre de sofrimento, em exercício pleno das suas capacidades e liberdades, como seres dignos.
A Quinta das Águias, em Paredes de Coura, é um dos santuários animais que existe no nosso país, onde actualmente mais de 130 animais vivem. Todos encontraram uma nova casa onde podem viver o resto das suas vidas livres de sofrimento.
CONHECE O CARNEIRO ZACARIAS
O início de vida do Zacarias tinha tudo para correr mal. Foi retirado da mãe com um mês e meio de vida e depois foi vendido como prémio de lotaria de uma feira local. O que se esperava era que o vencedor o comesse, mas na verdade a vida do Zacarias deu uma reviravolta. O vencedor não suportou a ideia de matar o pequeno bebé e entregou-o aos cuidados da Quinta das Águias. Por ser ainda tão pequeno, o Zacarias não integrou o rebanho da Quinta e, em vez disso, passou os seus primeiros meses em casa, partilhando o espaço dos humanos, dos cães e dos gatos, dormindo em colinhos fofos e sofás com mantinhas.
Agora adulto, o Zacarias – Zi para os amigos – mantém uma alma de menino mimado por todos. Faz parte da casa, da matilha, da colónia de gatos, do bando de pavões. Acompanha as galinhas, os patos, os gansos e os perus nos seus passeios. Gosta de observar as porcas Bolota e companhia e troca carinhos com os cavalos Artax e Silver. Recebe uma megadose diária de mimos por parte de todos os que habitam e que visitam a Quinta. Se não o deixam entrar em casa, fica a observar através das portas envidraçadas, que já aprendeu a abrir.
Porque passou o portão da Quinta das Águias, o Zacarias é agora todos os borregos, todos os cordeiros e todos os carneiros. A liberdade de poder expressar a sua individualidade (e peculiaridade) torna-o num símbolo da sua espécie que nos faz enfrentar e reconhecer aquilo que cá dentro já sabemos: os animais, tal como nós, fazem parte de um colectivo, mas são indivíduos e têm personalidades. Cada um deles é único e insubstituível.
Graças ao convívio com o Zacarias, já muitos visitantes juraram não mais comer borrego ou mesmo carne de outros animais, por terem percebido que são seres sencientes, dotados de sensibilidade e inteligência; seres complexos que sentem dor, prazer, medo e alegria: indivíduos únicos que são tão apegados à vida como nós.
CONHECE A PORCA BOLOTA
Quando era pequenina, a Bolota teve um início de carreira promissor, ao fazer parte do elenco de uma série televisiva portuguesa. Foi emprestada por um criador e, durante as rodagens, viveu num apartamento com dois elementos da produção e com os seus cães, participando no dia-a-dia deste agregado familiar.
No final das filmagens, todo o elenco e a produção já se tinham afeiçoado a esta porquinha tão meiga e inteligente, amante de festinhas na barriga, e não queriam sequer pensar na possibilidade de ela vir a cumprir o seu destino inicial, de ser abatida para consumo. Então compraram-na ao criador, e começaram a procurar um lugar que a acolhesse. Não era uma tarefa fácil, porque a Bolota rapidamente iria crescer e transformar-se numa porca adulta enorme com necessidade de muito espaço.
Ora esta busca chegou aos ouvidos da Ivone e do Joep, que resolveram acolhê-la. Quando chegou à Quinta, a Bolota teve como roomies os cães. Quando cresceu, a Quinta adoptou uma irmã do mesmo criador, a Miss Piggy, para que ambas tivessem companhia num no parque só delas.
NOTAS
Os dados apresentados neste artigo foram recolhidos através de duas fontes de informação:
- Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV): os dados foram recolhidos junto da entidade e não estão disponíveis no site da entidade.
- Instituto Nacional de Estatística (INE).
AGRADECIMENTOS
A AVP agradece às seguintes pessoas/entidades pela sua colaboração neste trabalho:
- Sofia Vieira, Rita Vicente, Filipa Calisto, Nuno Alvim, Marlene Carvalho e Ivone Housz, pela sua colaboração na coordenação, análise de dados estatísticos, fotografia e redação.
- Quinta das Águias, pela cedência de fotografias e texto relativo aos animais que alberga.