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Vegetarianismo: é natural que os seres humanos incluam carne na sua dieta?

Seremos nós, seres humanos: vegetarianos, carnívoros ou omnívoros por natureza? Será verdade ou mito que precisamos de incluir carne nas nossas dietas para nos desenvolvermos de maneira saudável?

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Seremos nós, seres humanos: vegetarianos, carnívoros ou omnívoros por natureza? Será verdade ou mito que precisamos de incluir carne nas nossas dietas para nos desenvolvermos de maneira saudável? 

Os cientistas ainda têm muitas perguntas sem resposta sobre as origens e a evolução do consumo de carne por parte dos humanos, mas existem algumas teorias fundamentadas sobre quando, como e porque começámos a incorporar grandes quantidades de carne na nossa dieta. Se a comunidade científica parece ser unânime em afirmar que a carne teve um papel fundamental na evolução do ser humano, cada vez são mais abundantes as evidências de que hoje em dia o consumo de carne não é essencial à nossa saúde e ao nosso bem-estar, e que poderá mesmo contribuir para o desenvolvimento de algumas das patologias mais comumente diagnosticadas na nossa sociedade. 

Assim, a questão que devemos tentar responder é a seguinte: será natural, que nós, Homo Sapiens Sapiens do século XXI, incluamos carne nas nossas dietas? Convidamos-te, através da leitura deste artigo, a aprofundar e aclarar um pouco mais esta questão que tanto divide o mundo da ciência nutricional.

vegetarianismo

A dieta maioritariamente herbívora dos primeiros hominídeos 

Embora existam movimentos na nossa atualidade como a dieta paleo, que afirma que os nossos ancestrais comiam grandes quantidades de carne, a verdade é que não conhecemos com exatidão a proporção de carne da dieta de nenhuma espécie humana primitiva, nem com que frequência a carne era comida. Os caçadores-coletores modernos têm dietas incrivelmente variadas, algumas das quais incluem grandes quantidades de carne, mas muitas delas não. Tudo leva a crer que os primeiros hominídeos não se encontravam pré-adaptados ao nível da sua dentição para comerem carne, pois simplesmente não dispunham das lâminas de cortar uniformemente côncavas necessárias para poderem processar esse tipo de alimento. 

Estudos científicos que se debruçaram sobre a questão revelam que a dieta dos primeiros hominídeos, precursores dos atuais seres humanos, era provavelmente semelhante à dieta dos chimpanzés modernos. Esta inclui grandes quantidades de frutas, folhas, flores, nozes, cascas, insetos e, ocasionalmente, carne proveniente de algum animal de maior porte. Segundo a antropóloga e etnóloga Jane Goodall, investigadora especializada no comportamento de chimpanzés desde há várias décadas, a carne e outros produtos de origem animal podem representar até 6% da dieta de um chimpanzé. E tudo indica que, tal como os chimpanzés, esses primeiros ancestrais dos humanos tenham aprendido a comer carne, esporadicamente, por questões de sobrevivência.

Um ponto de viragem há cerca de 2,5 milhões de anos 

Dois eventos importantes ocorreram durante a evolução do ser humano que contribuíram grandemente para que os nossos antepassados passassem de uma dieta maioritariamente à base de plantas para uma dieta omnívora, com a integração de maiores quantidades de carne animal. O primeiro foi o desenvolvimento das ferramentas afiadas, que melhoraram a capacidade de acesso à carne de animais mortos. O segundo evento foi a domesticação do fogo, que teve grande influência na evolução dos nossos ancestrais, em muitos aspetos da vida, incluindo na alimentação. Alguns cientistas defendem que a adoção do consumo de carne por parte dos humanos da época possa ter desempenhado um papel fundamental na evolução do cérebro humano, pois trouxe consigo a ingestão de certas vitaminas e ácidos gordos essenciais, dificilmente encontrados no reino vegetal natural. Uma dieta omnívora apresentava igualmente na época várias vantagens, sendo que uma das mais óbvias fosse a adaptação da dieta dependendo da disponibilidade. Ao contrário do que acontece hoje em dia, o ser humano não havia ainda descoberto e desenvolvido a agricultura, e alimentava-se daquilo que ia encontrando no seu entorno. 

Quando a carne se transformou num símbolo de riqueza e estatuto social elevado

Muitos anos mais tarde, em consequência da revolução agrícola do período neolítico (há cerca de 12,500 anos), o consumo de carne por pura necessidade de alimento transformou-se num consumo estabelecido de forma regular através da domesticação dos animais por parte do ser-humano. Os animais que forneciam leite, como vacas e cabras, ofereciam uma fonte de proteína estável e renovável e, portanto, bastante valiosa. A capacidade do animal como força de trabalho (por exemplo, para arar a terra), era igualmente levada em conta. Pouco a pouco, a criação de animais e o consumo de carne foram-se estabelecendo como um sinal de desenvolvimento económico e pertencimento cultural em muitas civilizações.

Ao longo do último milénio de maior fartura alimentar na história da humanidade, o consumo de carne tem vindo cada vez mais a reafirmar-se como um símbolo de elevado estatuto social, especialmente nos países mais industrializados. No século XIV, durante o qual houve uma redução nas colheitas de cereais em favor da produção de pastagens para gado, nasceram as primeiras fazendas especializadas na pecuária. E, desde então, com o surgimento das classes médias e a revolução industrial, a carne tem vindo a atingir camadas cada vez mais extensas da população humana terrestre.  Diferentes culturas são mais ou menos centradas na carne, embora haja uma correlação clara entre riqueza e consumo de carne. Nas nações ocidentais industrializadas, produz-se hoje em média cerca de 100 kg de carne por pessoa por ano, enquanto que, por exemplo, nas nações africanas mais pobres se consome anualmente em média menos de 10 kg por pessoa.

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Os humanos continuam a comer carne porque gostam, não porque precisam dela.

Embora o consumo de carne possa ter representado um aspeto fundamental na evolução do cérebro humano, isso não significa que a carne ainda seja uma parte insubstituível da dieta humana moderna. A jornalista e investigadora Marta Zaraska, autora do livro “Meathooked: The History and Science of our 2.5 Million Years Obsession with Meat afirma que outros alimentos ricos em calorias e com nutrientes semelhantes aos da carne, poderiam ter tido o mesmo efeito no desenvolvimento dos nossos cérebros antigos – “poderia ter sido manteiga de amendoim” -, mas aquele tipo de “carne” não se encontrava ao alcance dos nossos ancestrais da época.

Hoje, alguns de nós ansiamos por carne, em parte, porque os nossos cérebros – que evoluíram historicamente em ecossistemas desafiantes, como é o caso da savana africana – ainda estão programados para buscar fontes de proteína com alta densidade energética. Esta é uma tendência semelhante àquela que temos em relação ao açúcar, um combustível raro e rico em calorias para os nossos antepassados caçadores-coletores, cujos cérebros foram aprendendo a desenvolver um sistema de recompensa quando encontravam frutas maduras e com elevados teores em açúcar. Mas também ansiamos por carne por causa do seu significado cultural. Como vimos, diferentes culturas incorporam diferentes quantidades de carne nas suas dietas. E será que existem conclusões a serem tiradas se compararmos essas diferentes dietas existentes no nosso planeta?

Os malefícios do consumo de carne para a saúde humana

Algumas das dietas indicadas pelos nutricionistas como sendo das mais saudáveis e propensas à longevidade, como é o caso da dieta mediterrânica ou da dieta de Okinawa, são dietas de base vegetal, com consumo reduzido de carne, peixe e ovos. Segundo um estudo desenvolvido pela Universidade de Loma Linda nos Estados Unidos, uma dieta à base de plantas poderá estar na origem de um elevado número de biomarcadores de combate a doenças no organismo humano, e os vegetarianos tendem a viver mais e melhor do que as pessoas que consomem carne.

Do ponto de vista da medicina e da nutrição, só devemos comer carne se for saudável fazê-lo. Hoje sabemos que um consumo excessivo de carne está associado a um maior desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes e certos tipos de cancro. Ao contrário dos nossos antepassados, que poderão ter precisado da carne para assegurar a continuidade do desenvolvimento da espécie humana, nós temos, na grande maioria dos países do mundo, sistemas agrícolas bem estabelecidos com colheitas abundantes de vegetais, frutas e cereais capazes de satisfazer todas as nossas necessidades nutricionais, sem que o recurso à carne animal seja necessário. Continuar a incluir carne nas nossas dietas e nos nossos organismos é, hoje em dia, uma escolha e não uma necessidade. Será então inteligente continuarmos a fazer a escolha de consumir carne sabendo das consequências negativas a longo-prazo que o consumo de carne poderá ter para o corpo-humano?

A questão da ética animal

Para além das questões relacionadas com a saúde, existe um outro fator relevante a ter em conta no que diz respeito ao consumo de carne nos nossos dias: a compaixão e consideração dos interesses dos animais de outras espécies. Se nos é possível sobreviver e inclusive, ser mais saudável sem comer carne, ao mesmo tempo que poupamos a inúmeros seres sencientes inocentes uma vida curta de clausura e sofrimento, por que não escolher esta opção?

Será que é natural continuarmos a causar de maneira propositada e consciente tanto sofrimento animal sendo que são múltiplas as alternativas nutricionais à carne que existem hoje em dia na grande maioria das regiões do globo? Muitas pessoas no mundo estão seguras de que não e já optaram por excluir a carne e outros produtos de origem animal das suas dietas.

No final, cabe a cada um/a de nós, com toda a informação de que dispomos, fazer a escolha mais acertada. Sejamos apenas conscientes de que uma vida sem carne é possível, sim, e até recomendável!

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