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Alimentação vegetariana e gravidez: cuidados a ter

A adoção da alimentação vegetariana tem tido um crescimento exponencial nos últimos anos. Mas quando estamos perante uma gravidez, há cuidados especiais a ter? A resposta é...sim!

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A adoção da alimentação vegetariana tem tido um crescimento exponencial nos últimos anos. A integração total ou quase total de produtos de origem vegetal deve-se a vários fatores de ordem ecológica, ética, filosófica e nutricional. Do ponto de vista nutricional, consumos elevados ou exclusivos de tais produtos parecem relacionar-se com a diminuição da probabilidade de contrair doenças crónicas e também com a otimização do seu tratamento (1,2). 

Uma alimentação vegetariana, quer seja estrita ou não, para que bem planeada deverá incluir hortícolas, frutas, grãos integrais, leguminosas, frutos oleaginosos e sementes de preferência da época e minimamente processados, de modo a providenciar uma nutrição adequada(1).

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Quando a questão abordada é a nutrição durante a gravidez, é imperativo que esta seja equilibrada, de modo a fornecer ao feto um ambiente adequado e ótimo ao seu desenvolvimento(3,4). Neste período, os fatores ambientais e de estilo de vida da mãe durante a gravidez determinam o risco de desenvolvimento de doenças crónicas mais tarde e influenciam a saúde ao longo da vida do ser que irá nascer(4). 

A gravidez exige um aumento das necessidades nutricionais em macro e micronutrientes e uma alimentação equilibrada, para apoiar o crescimento e desenvolvimento do bebé, assim como o metabolismo materno(3). Assim, as recomendações alimentares e nutricionais devem adaptar-se a cada mulher, considerando-se as diferenças individuais(4). 

Considerações nutricionais para a grávida numa alimentação vegetariana

Várias entidades científicas demonstraram qual a sua posição quanto à alimentação      estritamente vegetariana e como esta é adequada durante a gravidez, lactação e infância, desde que bem-planeada(1). Assim, grávidas e lactantes poderão obter todos os nutrientes de que necessitam através de uma alimentação vegetariana variada em alimentos de origem vegetal e também, com recurso a boas fontes de vitamina B12 e vitamina D(1,5).

E podem até verificar-se algumas vantagens. A ciência tem nos mostrado que grávidas vegetarianas apresentam uma taxa inferior à média quanto ao parto por cesariana, menos depressão pós-parto, e mortalidade neonatal e maternal inferior, sem complicações superior à média(6,7). 

Apesar dos benefícios, alguns estudos reportam que os recém-nascidos de mães com um padrão alimentar vegetariano apresentam menor peso à nascença comparado com mães omnívoras. No entanto, também existem estudos a reportar o inverso(8). Em adição, há uma heterogeneidade de estudos que reportam que mães vegetarianas poderão estar em risco de défices em vitamina B12 e ferro durante a gestação(8).

Na grávida os nutrientes a ter em atenção são, de um modo geral, os mesmos que para a alimentação vegetariana. Assim, para que uma alimentação vegetariana seja nutricionalmente adequada deverá garantir-se a ingestão apropriada e a biodisponibilidade de alguns nutrientes como a proteína, ácidos gordos essenciais, vitamina b12, vitamina D, iodo, ferro, cálcio e zinco. Para garantir a obtenção destes nutrientes, a alimentação deverá incluir o consumo variado de hortícolas, frutas, grãos integrais, leguminosas, frutos oleaginosos e sementes, de preferência da época e minimamente processados, de modo a providenciar uma nutrição adequada(1). 

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Ellen Fisher

No entanto, o risco de défices nutricionais específicos é frequente na gestação, devido às necessidades aumentadas. Em particular, as concentrações de vitamina D e ácido fólico são frequentemente reduzidas, pelo que se recomenda uma dieta enriquecida em ácido fólico, cálcio e com concentrações adequadas de vitamina D através de exposição solar ou suplementação(6).      

Em adição, também os ácidos gordos ómega 3 constituem micronutrientes passíveis de aporte deficitário e que se relacionam com complicações gestacionais, neste caso, relacionadas com o desenvolvimento do cérebro do bebé(6). A vitamina B12 relaciona-se com neuro-disponibilidade e a vitamina D com o raquitismo infantil. Outros minerais importantes de monitorizar são o ferro, o cálcio, o iodo e o zinco(6).

No quadro abaixo poderás verificar os possíveis défices e os possíveis efeitos que lhes estão associados. Assim, é importante garantir o consumo suficiente de alimentos variados, de modo a suprir as necessidades em macro e micronutrientes e evitar possíveis deficiências nutricionais.

Para tal, poderás consultar o artigo previamente publicado sobre as fontes alimentares onde pode obter e suprimir as necessidades dos vários nutrientes. Poderá verificar neste link.

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Tabela 1 – Possíveis défices nutricionais e efeitos associados

Possíveis défices nutricionais Possíveis efeitosFontes alimentares
Baixo aporte em ácidos gordos ómega 3Baixo teor em ácido gordo DHA no leite materno.Risco de efeitos negativos no crescimento e metabolismo e sistema imunitário.Entrega deficitária de ácidos gordos insaturados ao feto. Sementes ou óleos de linhaça (moída), chia, cânhamo, algas, soja, nozes, beldroegas.
Baixo aporte de vitamina B12Possível letargia, hipotonia, anemia megaloblástica, neurodisponibilidade.Aumento do risco de defeitos neuro tubulares, baixa massa magra, aumento da adiposidade, insulinorresistência, aumento do risco de cancro, hiperhomocisteinemia.Consumir 2 porções de alimentos fortificados em vitamina b12 que forneçam 1,5-2,5 microgramas;Suplementar com 1000 microgramas três vezes por semana ou 2000 microgramas uma vez por semana de vitamina b12.
Baixo aporte de vitamina DRisco de hipovitaminose D e raquitismo infantilUma exposição solar de 5 a 30 minutos entre as 10h e as 15h, duas vezes por semana, durante a primavera e o verão, poderá ser suficiente para atingir as necessidades.Suplementação ou alimentos fortificados – 5 a 10 microgramas/dia.
Baixo aporte de minerais dietéticosAporte insuficiente em ferro: estão relacionadas com pesos à nascença inferiores, rendimento académico reduzido, produtividade diminuída. Em adição, mães vegetarianas parecem ter um aporte de ferro adequado quando comparado com mães não vegetarianas.Aporte insuficiente em zinco: evidência insuficiente sobre possíveis efeitos durante a gestação.Aporte insuficiente em iodo: possível hipotiroidismo neonatal transitório*.Aporte insuficiente em cálcio: baixa densidade óssea total, possível risco de raquitismo infantil.Ferro: leguminosas, cereais integrais, vegetais de cor verde escura, sementes,
frutos gordos, tofu, tempeh, e alimentos fortificados como cereais de pequeno-almoço.Zinco: cereais integrais e derivados, leguminosas, frutos oleaginosos, sementes.Iodo: sal iodado, algas.Cálcio: hortícolas de cor verde escura, leguminosas, sementes e frutos gordos; alimentos fortificados como tofu, bebida de soja, aveia, amêndoa ou arroz e cereais de pequeno-almoço.
Baixo aporte de micronutrientes específicos (selénio, DHA, EPA)O consumo insuficiente destes nutrientes parece estar associado à depressão pós-parto.Selénio: castanha do Pará (ou castanha do Brasil), sementes,
cogumelos, cereais e derivados.EPA e DHA: alimentos fortificados em e/ou a suplementação (proveniente de microalgas)

*Hipotiroidismo neonatal transitório – disfunção tiroideia no recém-nascido

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Considerações finais

Uma alimentação vegetariana, desde que bem planeada, é saudável e adequada em todas as fases do ciclo de vida, podendo ser útil na prevenção e tratamento de doenças crónicas. A alimentação adequada é fundamental para o ótimo desenvolvimento do feto e para a saúde da mãe. Neste padrão alimentar e durante a gestação, os nutrientes que carecem de maior atenção, após a adequação da ingestão energética, são os ácidos gordos essenciais ómega-3 (DHA e EPA), as vitaminas B12 e D, ácido fólico, e os minerais ferro, cálcio, iodo, zinco e selénio.

Em suma, a gravidez representa uma janela de oportunidade para a mudança de hábitos alimentares e de estilo de vida na direção de hábitos mais saudáveis para a mãe e o bebé. 

NOTA IMPORTANTE: Este artigo não substitui a necessidade de acompanhamento especializado durante a gestação, pelo que se recomenda a procura de um profissional de saúde para o efeito.

Documentos de apoio:

Manuais do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Direção-Geral da Saúde:

Autora: Rafaela Honório, Nutricionista

Referências bibliográficas

1. Melina V, Craig W, Springs B, Levin S. Dietetics : Vegetarian Diets. J Acad Nutr Diet. 2016;16:1970–80. 

2. Cristina S, Silva G, Santos CT. Linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável. 2015. 

3. Dinu M, Abbate R, Gensini GF, Casini A, Sofi F. Vegetarian, vegan diets and multiple health outcomes: A systematic review with meta-analysis of observational studies. Crit Rev Food Sci Nutr. 2017;57(17). 

4. Teixeira D, Pestana D, Calhau C, Vicente L, Graça P. Alimentação e Nutrição na Gravidez [Internet]. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Lisboa; 2014. Available from: https://nutrimento.pt/activeapp/wp-content/uploads/2015/04/Alimentacao-e-nutricao-na-gravidez.pdf

5. Baroni L, Goggi S, Battaglino R, Berveglieri M, Fasan I, Filippin D, et al. Vegan nutrition for mothers and children: Practical tools for healthcare providers. Nutrients. 2019;11(1):1–16. 

6. Pistollato F, Sumalla Cano S, Elio I, Masias Vergara M, Giampieri F, Battino M. Plant-Based and Plant-Rich Diet Patterns during Gestation: Beneficial Effects and Possible Shortcomings. Adv Nutr An Int Rev J. 2015;6(5). 

7. Sebastiani G, Barbero AH, Borrás-Novel C, Casanova MA, Aldecoa-Bilbao V, Andreu-Fernández V, et al. The effects of vegetarian and vegan diet during pregnancy on the health of mothers and offspring. Nutrients. 2019;11(3):1–29. 

8. Piccoli GB, Clari R, Vigotti FN, Leone F, Attini R, Cabiddu G, et al. Vegan-vegetarian diets in pregnancy: Danger or panacea? A systematic narrative review. BJOG An Int J Obstet Gynaecol. 2015;122(5):623–33. 


Rafaela Honório, Nutricionista parceira da Associação Vegetariana Portuguesa (AVP)
Membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas nº 3872N

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