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Covid19, pandemias e a relação com o que comemos

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2020. O annus horribilis, o ano da Covid-19 – todos nós já sabemos. Agora falta saber: o que fazer para que não aconteça novamente? Como evitar o aparecimento de novas pandemias?

Ora bem, tudo aponta para que a Covid-19 tenha tido origem num “mercado húmido” da cidade de Wuhan, na China. Aqui (e em muitos outros sítios do mundo) estes mercados são comuns: mercados onde existem muitos e diferentes tipos de animais juntos, vivos, e aqui são mortos e consumidos. Dada esta grande quantidade de animais num reduzido espaço, é comum estes estarem em gaiolas, amontoadas umas em cima de outras. Isto resulta numa partilha de fluidos corporais, não só secreções mas também outros líquidos que escorrem de gaiola para gaiola. Esta é, em resumo, a realidade diária destes mercados, que, como disse, se encontram em várias partes do mundo. 

É importante termos isto em conta: mesmo em outros países onde tipicamente não encontramos estes mercados, deparamo-nos com este problema: grandes quantidades de diferentes animais em espaços reduzidos que, mais uma vez, levam a esta partilha de fluidos, que é muito mais improvável acontecer na natureza, dado que os animais estão muito mais dispersos. Foi em ambiente igualmente abarrotados com animais que apareceu a gripe suína (a chamada gripe A), que se pensa ter tido origem em pocilgas perto da Cidade do México, ou a gripe das aves, por exemplo. Mas olhemos para Portugal: também aqui encontramos pocilgas, aviários e outros edifícios com centenas e centenas de animais amontoados, vivendo de maneira muito diferente do que viveriam na natureza. Neste contacto tão próximo, inevitavelmente partilham sangue, urina, fezes e outras substâncias que fornecem as condições favoráveis para os agentes patogénicos aparecerem e se desenvolverem.  Para além dos locais onde os animais “vivem”, não esqueçamos ainda os lotados veículos onde são transportados e os matadouros, mais uma vez, com grandes quantidades de animais – e onde obviamente há um grande escorrimento e partilha de fluidos. 

Para entendermos mais sobre o assunto, vejamos a explicação que nos dá Martha Nelson, uma epidemiologista molecular no National Institutes of Health

Os vírus encontram-se na natureza. Acontecem, ocasionalmente, mutações nos vírus, mutações que os tornam mais mortais, por exemplo, ou que os tornam capazes de saltar de espécie para espécie. 

Os vírus apenas são capazes de se replicar quando conseguem um hospedeiro, ou seja, quando obtêm um organismo – um animal – onde se hospedar. Mas claro que todos os animais eventualmente morrem, e com eles morrem também os vírus que nele estiverem hospedados.

Na natureza, tendo em conta a distância entre animais, é muito mais difícil os vírus saltarem de animal para animal – ficam apenas no animal inicial, e com ele acabam por morrer.

Por outro lado, nestas grandes e lotadas explorações animais, com muitos mais hospedeiros, as chances de resistência e sobrevivência dos vírus são muito maiores. 

O que em suma Martha Nelson nos está a querer dizer é que era apenas uma questão de tempo: os vírus sofrem diferentes tipos de mutações. Eventualmente iria chegar o dia em que uma dessas mutações tornaria o vírus mais resistente e mortífero. 

A gripe suína, por exemplo, surgiu numa exploração animal para onde vinham porcos dos EUA e da Europa: havia ali uma grande mistura de animais de todo o mundo – que na natureza simplesmente não ocorre. Estes animais misturavam-se aqui, misturando também os seus vírus e partilhando os seus componentes genéticos – o que forneceu as condições necessárias para a mutação do vírus, que acabou por se mutar de maneira a gerar uma pandemia internacional.

Agora vejamos diretamente esta questão, a questão de o vírus gerar uma pandemia internacional – no caso da Covid-19 é mesmo mundial. 

Desde a descoberta da penicilina, o Homem tem sido capaz de tratar a maior parte das infecções. Sendo estas explorações animais lugares tão férteis para o aparecimento de infecções, é muito comum os animais aqui ingerirem antibióticos, estando doentes ou não, exatamente como forma de prevenir a reprodução e propagação de bactérias. No entanto, tal como os vírus também as bactérias sofrem mutações, e eventualmente alguma dessas mutações lhe vai permitir resistir ao antibiótico. E claro, com a evolução das bactérias, aquelas que tiverem essa mutação vão ser as que sobrevivem – é simplesmente a lei da seleção natural. 

É por isto que estamos a começar a ouvir falar em “resistência aos antibióticos”, que poderá vir a ser outra grande ameaça à saúde humana. Desta forma, quando contrairmos infecções e tentarmos tratá-las com antibióticos (tal como temos feito desde a descoberta da penicilina), a bactéria simplesmente será mais forte e resistente do que o antibiótico. 

A palavra Covid-19 já é conhecida por toda a gente. Infelizmente, todos tivemos que, de repente, mudar drasticamente as nossas vidas de formas que nunca sequer pensámos virem a ser necessárias. Todos sentimos falta da “vida normal”, sem máscaras, de irmos ao cinema, à praia, ao restaurante… Todos sentimos falta, mas todos nos esforçamos por nos adaptarmos a esta realidade necessária, pela saúde de todos. 2020 é o annus horribilis, mas também é o ano em que aprendemos e provámos que nos conseguimos unir mundialmente, mesmo mudando as nossas vidas drasticamente.

O consumo de produtos animais, para além dos negativos impactos ambientais, está ligado a doenças cardíacas, renais, diabetes, colesterol… E agora sabemos também da sua grande responsabilidade no aparecimento de novas pandemias – que, como vimos, é apenas uma questão de tempo até surgir a próxima. Então, se somos capazes de tão drásticas mudanças para prevenir a propagação de um vírus, certamente também conseguimos reduzir o nosso consumo de produtos animais. Uma mudança muito menos drástica do que aquelas a que todos fomos obrigados este ano, e que certamente produzirá grandes efeitos. Todos podemos, ao optar por alternativas aos produtos animais, desincentivar esta forma de produção de carne em massa. Produção essa que nada de bom tem para nós, nem para estes animais que vivem – ou passam a vida – em condições deploráveis. 

A autora escreve segundo a antiga ortografia.

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