Tal como o médico Michael Greger já tinha investigado antes, todas as pessoas que tenham TMAO – óxido de trimetilamina – na corrente sanguínea têm um maior risco de vir a ter um ataque cardíaco, um AVC ou mesmo morrer dentro de 3 anos. Isto aplica-se a todas as pessoas, quer sejam elas jovens ou mais idosas, homens ou mulheres, fumadores ou não; quer tenham pressão alta ou baixa, alto ou baixo colesterol, e até quer os níveis de TMAO sejam baixos ou altos.
E de onde vem o TMAO? Tal como ele investigou e mostra no seu vídeo How to Develop a Healthy Gut Ecosystem, a colina presente em alimentos como os ovos pode ser transformada por bactérias intestinais em TMAO, sendo depois absorvido pelo nosso organismo. E quantos mais ovos comemos, maior será a subida desse nível, como se pode ver ao minuto 0:41 do vídeo.
Dada a semelhança entre a estrutura da carnitina e da colina, os investigadores da Clínica de Cleveland quiseram saber se a carnitina presente na carne vermelha, nas bebidas energéticas e nos suplementos também pode levar à produção de TMAO.
Como se pode ver no minuto 1 do vídeo, se as pessoas omnívoras – ou seja, aquelas que comem regularmente carne – comerem um bife, os seus níveis de TMAO disparam. Já as pessoas que seguem uma alimentação estritamente vegetariana podem não ter nenhum TMAO no seu sistema, supostamente por não comerem carne, ovos ou lacticínios.
Mas, mesmo que os vegetarianos comam um pedaço de carne, os seus níveis de TMAO continuam quase tão baixos como antes. Porque será? Podemos presumir que é porque os vegetarianos não têm nos seus intestinos as bactérias que se alimentam de carne. Foi descoberto que, se não tivermos essas bactérias nos intestinos, também não produzimos TMAO. Isto porque, quem não tem por hábito comer carne regularmente, também não está a incentivar o crescimento dos micróbios que comem a carne, e que produzem TMAO.
Isto leva-nos a crer que quando tivermos desenvolvido um ecossistema intestinal vegetariano, as nossas bactérias não produzirão TMAO, mesmo se comermos carne de vez em quando. No entanto, ainda não sabemos com que rapidez as bactérias nos nossos intestinos mudam após alterarmos a nossa alimentação – mas não parece ser tudo preto no branco.
Ora vejamos: se uma pessoa que tem uma alimentação rica em produtos animais, comer duas salsichas, ovo e queijo antes e depois de cinco dias a comer comidas igualmente ricas em gordura, a sua produção de TMAO aumenta ainda mais, como podemos ver ao minuto 2:09 do vídeo. Então, não é apenas uma questão de termos as bactérias erradas ou não, mas sim também se conseguimos ou não produzir mais destas más bactérias quanto mais as alimentamos.
As dietas alimentares sem carne, por outro lado, também parecem demonstrar ter uma profunda influência no metabolismo humano. Até só ao analisar uma amostra de urina podemos concluir que tipo de alimentação a pessoa faz, ao medir um baixo nível de TMAO na urina nas pessoas que seguem uma dieta estritamente vegetariana (como se pode ver no minuto 2:26).
A seguir, no minuto 2:43, o autor explica que podemos mesmo fazer as mesmas pessoas escolher entre três alimentações diferentes, e conseguimos determinar quem escolheu a alimentação rica em carne, a alimentação sem carne e a alimentação com este consumo moderado – conseguimos determinar isto, em parte, através dos diferentes compostos produzidos pela flora intestinal ou pela diferença na actividade da flora intestinal ao fim de duas semanas.
É possível que alguns dos efeitos benéficos das comidas integrais [comidas não processadas] sejam perdidos no efeito que eles têm nas bactérias presentes no nosso intestino.
A alimentação estritamente vegetariana tem sido aceite como uma estratégia preventiva para evitar doenças. Talvez, em parte, isto se deva à sua flora intestinal bastante peculiar, com menos bactérias que causam doenças e com mais espécies protectoras. Então, por muito tempo temos pensado que a razão pela qual as pessoas vegetarianas têm taxas de doenças cardíacas mais baixas é porque comem menos gordura saturada e colesterol. Mas também há a possibilidade dos seus baixos níveis de TMAO também contribuirem para estes benefícios – graças à pouca ingestão de carnitina e colina.
O autor falou de vários assuntos, desde a indústria dos ovos à revelação da colina na Egg Industry Response to Choline and TMAO. E qual foi a reacção da indústria de suplementos de carnitina? Vejamos por exemplo a AdvoCare, que é uma empresa de marketing que vende suplementos de carnitina e que tem sido atacada com acções judiciais que a consideram culpada de estar envolvida em práticas falsas e enganosas. O seu ex-presidente reagiu perguntando se há alguma conspiração vegana secreta na Clínica de Cleveland, argumentando que restringir a nossa ingestão de suplementos de carne ou carnitina para evitar que as nossas bactérias intestinais produzam TMAO, é como tentar prevenir acidentes de carro restringindo a venda de combustível.
Estamos a falar de TMAO, que pode estar a alimentar a epidemia de doenças cardíacas que vivemos, a maior causa de morte de homens e mulheres nos EUA. Quanto mais pudermos cortar o combustível para isso, melhor.
Podes ler o artigo original aqui.
Tradução por Daniela Pereira.
A autora escreve segundo a antiga ortografia