Os apoiantes da implementação de taxas extraordinárias sobre a carne dizem que o impacto ambiental negativo, as consequências para a saúde, e as preocupações pelo bem-estar animal sustentam este tipo de imposição sobre os consumidores. Mas quão realista é a sua aplicação? Será que funcionaria realmente?
A ideia irá provavelmente enfrentar oposição por parte dos lobbies e organismos da indústria. No entanto, na Alemanha, os legisladores dos partidos Verdes e Social Democratas estão a considerar a proposta.
Emissões elevadas
A criação de animais para a produção de alimento requer grandes quantidades de solo, água, e ração. Adiciona-se a esse impacto o papel significativo que o sector tem na emissão de gases de efeito de estufa, produzindo anualmente o equivalente a 7.1 gigatoneladas de dióxido de carbono, de acordo com a FAO (Food and Agriculture Organization). Valor esse, que corresponde a cerca de 14,515% de todas as emissões de origem antropogénica.
Apesar do consumo decrescente de carne em alguns países, este tem vindo a aumentar noutros, como é o exemplo da China, de acordo com uma investigação da revista Science. Quando adicionamos a isto a previsão da FAO de um aumento de 70% da procura no sector da pecuária até 2050, é possível compreender porque é que alguns políticos procuram limitar este crescimento.
Temos vindo a verificar uma diminuição do consumo de carne em muitos países desenvolvidos. Um relatório recente das Nações Unidas chega até a promover uma alimentação de base vegetal como uma solução para a mitigação das alterações climáticas, fazendo inclusive a recomendação de redução do consumo de carne.
Uma taxa extraordinária sobre os produtos de carne inserir-se-ia na mesma categoria de outras taxas de promoção da saúde pública e bem-estar, já existentes em todo o mundo. Para além das legislações de longa data referentes ao álcool e ao tabaco, a taxação de produtos como o açúcar são agora aplicadas em muitos países, incluindo o Reino Unido, a Irlanda, Portugal, e os Emirados Árabes Unidos.
Funcionará realmente?
Ainda assim, este tipo de medidas pode ser controverso, com alguns argumentos contra focados nas consequências para os consumidores de menor capacidade económica. O primeiro-ministro Britânico, Boris Johnson, planeia rever o funcionamento da taxação de produtos prejudiciais para a saúde (‘sin taxes’) no Reino Unido.
Argumenta-se ainda, que outro tipo de políticas, melhor planeadas, poderiam contribuir para o funcionamento destas taxas de forma mais eficiente e sem consequências negativas para a população em condições mais precárias. Uma investigação do National Bureau of Economic Research, nos Estados Unidos, explora como uma taxa extraordinária sobre a carne poderia funcionar nos mesmos modelos que a taxa sobre os refrigerantes.
Um estudo da Science defende que são necessárias mais provas relativamente à eficácia de uma influência externa nas decisões de compra e consumo das pessoas.
“A multitude de fatores que influencia o preço e disponibilidade da carne, e a forma como é processada e comercializada, determinam o contexto socioeconómico que é afetado, e afeta profundamente os comportamentos e as normas.” – escreveu o autor – “A existência de grandes investimentos e interesses torna a economia política das alterações alimentares extremamente desafiante.
Fonte: We Forum
Tradução: Ana Beatriz